Faltam apenas dois meses para o fim do governo Lula, mas pouco se sabe sobre o futuro do presidente. Em segredo, o chefe de estado planeja a sua vida e a continuidade de sua carreira pública, ainda que fora do Palácio do Planalto. Apesar da empolgação – muitas vezes além da conta para um ocupante do cargo – com a qual se envolveu na campanha de Dilma Rousseff (PT), Lula parece desconfortável com a perspectiva de deixar o cargo ocupado desde 2003. Em uma brincadeira recente, o presidente afirmou que não largaria a faixa oficial no dia 31 de dezembro, quando terminará, enfim, seu segundo mandato.

Entre as especulações sobre o futuro de Lula, fala-se muito na criação de uma fundação com o seu nome. A assessoria de imprensa da Presidência da República, porém, não confirma qualquer plano concreto dele. “Existe a intenção de criar uma instituição que contenha tudo referente a este governo, mas o presidente tem evitado falar disso até com pessoas próximas. Ele quer aproveitar ao máximo o fim do mandato, sua popularidade e suas conquistas”, afirmou um dos seus assessores ao site de VEJA.

Que o presidente está mesmo aproveitando sua popularidade não resta nenhuma dúvida. Ao longo da campanha de Dilma Rousseff, Lula não hesitou em utilizar sua influência para apoiar fervorosamente a possível sucessora. Deixando de lado a liturgia do cargo, em inúmeros momentos transformou-se em cabo eleitoral, deixando a Presidência em segundo plano. A oposição não se conformou. A Justiça Eleitoral investigou sua conduta. Mas Lula não se deteve: seguiu rodando o país, comandando comícios e liderando carreatas – e, em numerosas ocasiões, deixando de lado a agenda presidencial.

“Pelo menos ele não buscou um terceiro mandato, apesar de gostar muito de prestígio e de ser presidente”, diz Martins Junior, em referência às mobilizações dos petistas no sentido de mudar a lei e permitir uma nova reeleição. O especialista acha que o Brasil não sabe qual postura esperar de um político nessa situação: “Outros governantes que tivemos depois de 1945 não tinham candidatos ou popularidade.” Ele acredita que, como a república brasileira ainda é jovem, tudo que Lula está fazendo não é necessariamente um perigo – pode ser também uma oportunidade para ficar atento e defender que a legislação lide com isso de maneira mais clara e com penalidades mais duras.