É verdade que é cedo para fazer um balanço completo da gestão Dilma Rousseff. Não deu nem o período de 100 dias que a imprensa costuma chamar de lua de mel. No entanto, já há o que comemorar, embora não se saiba se será uma tendência de fato ou apenas um tique da hora.

Em linhas gerais, Dilma tem se saído muito melhor do que a encomenda. E tudo isto porque está se impondo um estilo oposto ao do antecessor. Pouco importa que se diga que a presidente seguiu no primeiro mês um roteiro esquematizado do publicitário João Santana.

O mais importante de tudo parece ter sido a limitação de falas a aparições públicas. Somente hoje, Dilma experimenta sua primeira viagem internacional.

Na Argentina, Dilma acertará com Cristina Kirchner a construção de um reator nuclear bilateral para fins civis e terá momentos de grande simbologia ao se encontrar com as Mães da Praça de Maio, dias depois de comparar vítimas de ditaduras a vítimas do Holocausto. Para os especialistas, vai sinalizar que seu governo dará passos firmes para investigar crimes do regime militar.

O estilo mais discreto e tecnocrático, com suas reuniões fechadas, evitando viagens demagócias e eleitoreiras como fez Lula durante oito anos, é bom para o Brasil e bom para a instituição da presidência, que não é rebaixa como se viu nos últimos oito anos.

Neste meio tempo, um coisa maravilhosa que aconteceu e que não se via no governo passado foi o combate imediato à corrupção e à incompetência gerencial. Dilma já deixou claro que não vai tolerar erros ou “rebeldias”.

Em 20 dias, caíram Abelardo Bayma (Ibama), Joaquim Soares Neto (Inep) e Pedro Abramovay (Secretaria Nacional Antidrogas). É um recorde inimaginável.

Para que se tenha uma idéia de comparação, Lula adiou as primeiras demissões de ministros por 12 meses. Não faltou nem cara de pau para dizer que o mensalão não existiu, era uma invenção da tal mídia golpista.

Quando não, Lula fritava os subordinados até o limite. Na Esplanada, ninguém acredita que Dilma vai esperar tanto. Isto sim é uma revolução.

Outra coisa boa, para se comemorar, tem a ver com a ação dos ministros. Dilma parece ter vetado divergências públicas entre subordinados, enquanto Lula deixava o circo queimar antes de intervir.

No plano mais prático, não considero nem que o salário mínimo será seu grande teste no Congresso, pois as as oposições, desunidas como estão, não podem impor derrota alguma, sem contar que a economia indo bem não há espaço para sobressaltos

A única pisada na bola de Dilma foi a defesa do terrorista italiano. O nó será resolvido agora com o reinício dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal. O que se discute juridicamente é a extradição ou não do ex-terrorista Cesare Battisti para a Itália. Lula disse não, mas parte dos ministros considera que o tratado Brasil-Itália não dá poderes discricionários aos presidentes. Por esse entendimento, o Supremo é quem decide, e a Lula cabia apenas dizer quando e como Battisti seria entregue.

Por tudo isto, Lula é passado, embora esperneie por holofotes, como a aparição em um campo de futebol neste final de semana. Ridículo e piegas, como sempre.

O homem não desceu do palanques um único dia, em oito anos de governo. Até hoje Dilma só fez dois discursos, um deles sobre assuntos externos ao governo: uma homenagem a José Alencar e outra às vítimas do Holocausto.

Quem não lembra da demagógica caravana de ministros para ver a miséria de perto, que marcou a estreia de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Dilma sabiamente cortou viagens de campo, à exceção da visita a áreas atingidas por enchentes no Rio. Era o mínimo.