Deu na Agência Estado

Nuvens pairam sobre o mundo do cartão de crédito. Após anos de crescimento exuberante, o setor sofre cada vez mais com um problema que tira o sono de muita gente: o calote. Em tempos de economia vacilante, brasileiros nunca estiveram tão enrolados com as faturas e a inadimplência atingiu 27,3% em abril, nível mais alto para o mês na série histórica do Banco Central.

Se o critério for mais rígido e também levar em conta quem atrasou o pagamento do extrato de 15 a 89 dias, o número de consumidores com problemas salta para 38,8%. São R$ 14,6 bilhões que não entraram nos cofres dos bancos.

O cartão sempre teve inadimplência mais alta que outras operações. Na média de 2005 a 2010, por exemplo, o calote médio ficou em 24,1%, bem superior aos 9% do cheque especial. O problema é que a taxa voltou a avançar mais rápido e, agora, gira em torno dos níveis recordes da série.

Nova classe média

 

O descontrole financeiro é mais comum entre clientes que têm pouca familiaridade com o cartão. O problema afeta especialmente a chamada nova classe média. E, nos últimos anos, a ascensão social de milhões de famílias aconteceu com um acessório quase obrigatório: o cartão na carteira. É quase tão simbólico como o iogurte no início do Plano Real.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito, o universo de cartões de crédito e de loja alcançou 440 milhões em maio. É como se cada brasileiro levasse 2,3 deles no bolso. Isso sem contar os que têm apenas a função débito. Em 2003, eram 116 milhões de cartões ou 0,6 por habitante.

O boom aconteceu principalmente porque bancos viram no cartão de crédito uma porta de entrada para novos clientes. O problema, porém, é que muitos não sabem como a operação funciona. “Muitos pagavam o mínimo e achavam que a dívida estava quitada”, lamenta um executivo do setor.