Fernando Haddad venceu; Lula é mesmo um forte. Derrotado fosse, o ex-presidente amargaria hoje seu maior fracasso: associada ao Mensalão, a derrota seria interpretada como seu fim. Justos, então, os créditos: Lula acreditou, ousou, correu riscos. Mas, isto não facilita para novo prefeito: Haddad terá que provar que também é um forte. Se ampla estrada se abriu, longo será o caminho. E sua missão será percorre-lo escrevendo uma nova história.

Ninguém sabe os desdobramentos do mensalão: o quanto pode transbordar para outros atores, incendiar novos rancores. Trata-se de um capítulo que deixou feridas e demarca um tipo de política que precisa ser superada. Não apenas retoricamente, como nas campanhas eleitorais, mas na prática, nos métodos e valores. Não se restringe isto ao PT e nem à Ação 470. O Julgamento, de algum modo, tratou de hábitos e costumes do sistema político.

É justo que o PT sinta-se hoje com alma lavada. Foi realmente seu maior suplício: a coincidência do julgamento com a eleição mexeu com muitos demônios. Mas, será um erro não exorcizá-los. Saber ganhar é mais importante que saber perder. Para Haddad será importante compreender que a vitória não absolve condenados, nem apaga a história. Mas, pode, no entanto, mais rapidamente virar a página. Permitir que se escreva com novas tintas, num novo alfabeto.

Separando as coisas, o eleitor deu chance e lição: no seu cálculo, as políticas públicas, o novo rosto e a perspectiva de novos métodos atuaram mais decisivamente do que o ressentimento. Foi uma escolha pela superação.

Nova imagem petista

Dirigentes petistas ouvidos pelo iG avaliam que a ascensão eleitoral de nomes novos como o do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad , pode ajudar o PT revitalizar a imagem ética do partido abalada pela condenação de lideranças históricas como José Dirceu e José Genoino pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento no mensalão. Um dirigente petista usou uma metáfora tecnológica para exemplificar o significado para o PT da renovação nos quadros partidários: “Haddad é o PT 2.0”. Ao longo de 33 anos de história do PT surgiram várias novas lideranças. A principal diferença na eleição deste ano é que a renovação vem acompanhada da saída de cena dos condenados pelo mensalão. O PT sai com uma cara muito nova que vai ajudar a desarmar os ânimos, porque hoje existe um debate tentando nos criminalizar. O Haddad é a maior expressão dessa cara nova”, disse o deputado Paulo Teixeira. “Ele ( Haddad ) mostra uma face muito interessante do partido que nós precisamos cuidar para que seja bem sucedida”, completou. Petistas citam uma peça recorrente do discurso eleitoral de Haddad para demonstrar o poder que a vitória em São Paulo tem para revitalizar a imagem ética do partido. Em vários discursos Haddad disse que entra na prefeitura com a camisa limpa e vai sair com a camisa igualmente limpa.

Fonte: IG/Estadão