O projeto da ferrovia Nova Transnordestina vai, pelo visto, seguindo o mesmo caminho opaco e dificultoso das obras da transposição do São Francisco, da construção da refinaria Abreu e Lima, só para ficar em alguns poucos exemplos das grandes obras iniciadas pelos governos que comemoram agora dez anos no poder.

Transnordestina, Transposição e Abreu e Lima têm como traço de união o desrespeito absoluto aos sucessivos cronogramas de evolução das obras e o aumento estratosférico de custos. Faz-se tudo devagar, muito devagar, menos recalcular, sempre para muito acima, a dinheirama pública despendida.

Gosto de apresentar dados, porque são irretorquíveis:

Transposição do São Francisco

– Início das obras: 2007. Custo previsto: 4,5 bilhões de reais. Previsão original de início de operação: 2010.

– Nova situação: Custo reestimado: 8,5 bilhões de reais . Nova data para início de operação: 2018. Percentual das obras já realizadas: 43%.

Refinaria Abreu e Lima

– Início das obras: 2005. Custo previsto: 2,5 bilhões de dólares. Previsão de início de operação: 2012.

– Nova situação: Custo reestimado: 21 bilhões de dólares. Nova previsão de início de operação: 2015. Percentual das obras já realizadas: 70%.

Nova Transnordestina

– Início das obras: 2006. Custo previsto: 5,4 bilhões de reais. Previsão de início de operação: 2010.

– Nova situação: Custo reestimado: 7,5 bilhões de reais.Nova previsão para início de operação: 2016 . Percentual de obras já realizadas: segundo levantamento do jornal Valor, o único trecho efetivamente pronto soma 262 km de extensão (15% do total do projeto). Em média, estima-se que 40% da obra como um todo tenha sido realizada.

A Nova Transnordestina é, sem dúvida, um projeto muito importante para a região, tendo sido redesenhado e ampliado a partir do projeto original feito no governo FHC. Quando pronta unirá o porto de Pecém, no Ceará, ao porto de Suape, em Pernambuco, num total de 1.728 quilômetros.

A proposta é muito boa: elevar a competitividade da produção agrícola e mineral da região com uma logística que une uma ferrovia de alto desempenho e portos de calado profundo que podem receber navios de grande porte.

Mas que distância, entre a proposta, que vem numa folha de papel (ou numa tela de computador) e a concretização!!!!

A notícia que está na praça é que o governo acaba de ceder a pressões da Transnordestina Logística, responsável pelo projeto e vai aceitar o aumento do custo dos 5,4 bilhões de reais inicialmente previstos, para 7,5 bilhões.

E não é só os custos que transbordam amplamente das previsões. É que ao aceitar mudar o contrato de concessão, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) endossa também os atrasos no cronograma das obras.

Não se trata propriamente de um sinal salutar, que se transmite às vésperas do leilão de mais de dez mil quilômetros de ferrovias.

Por Pedro Luiz Rodrigues