Por Pedro do Coutto

 

 

Reportagem de Marina Dias, Folha de São Paulo de quinta-feira 17, revela que, nos bastidores, tanto Aécio Neves quanto Eduardo Campos, vêm estimulando pequenos partidos, como o PSC, PPS, PSOL e PRTB, para que lancem candidatos à sucessão de 2004 e com isso, contribuírem para que haja segundo turno nas eleições do próximo ano. Se estão agindo nesse sentido é porque não confiam no fato de as votações de ambos, somadas, sejam suficientes para evitar os 50% mais um de Dilma Rousseff. A atual presidente, assim, cresce mais com esse comportamento dos pré-candidatos do PSDB e do PSB. Depois de ler a matéria da FSP, vai naturalmente sentir-se mais forte.

Vejam só: Aécio e Campos incentivam que o PSC dispute o pleito com a candidatura do pastor Everaldo Pereira; o PPS com a ex-vereadora da cidade de São Paulo, Soninha Francine; o PSOL com o senador, aliás um bom parlamentar, Randolfo Rodrigues; finalmente o PRTB com Levy Fidelis. PSC, PPS e PSOL, cada um, tem 1 minuto e 25 segundos no horário político na televisão e no rádio. O PRTB, cuja existência eu desconhecia, possui 1 minuto.

 

QUAIS SÃOS OS CANDIDATOS

 

Mas o problema não é de tempo. E sim de uma atitude essencialmente defensiva dos principais nomes da oposição. E tem mais duas questões: quem será de fato, no final da ópera, o candidato do PSB? Eduardo Campos ou Marina Silva? Quem será o candidato do PSDB? Aécio ou José Serra? A recente pesquisa do Datafolha apontou 29 pontos para Marina contra 39 de Dilma e, no cenário alternativo apenas 15% para o governador de Pernambuco. Relativamente ao nome do PSDB, assinalou 25% para José Serra contra 21 pontos para Aécio Neves. Como se observa, em primeiro lugar, antes de mais nada, o Partido Socialista Brasileiro precisa decidir se vai às urnas com Eduardo Campos mesmo, ou se prefere Marina Silva. São enigmas duplos que os próximos levantamentos de opinião pública devem esclarecer.

Porque, afinal de contas, ninguém pode disputar uma eleição sem perspectiva, pelo menos alguma, de vitória. Sem tal perspectiva, o que a legenda poderá dizer ao eleitorado? Nada. Pois se seus integrantes consideram incertas suas posições, como vão transmitir o entusiasmo indispensável aos eleitores? Isso de um lado. De outro, ao se empenharem pela hipótese de um segundo turno é porque, claro, deixam transparecer que acreditam que, no primeiro, Dilma Rousseff chegará na frente. Um raciocínio leva diretamente ao outro. Agora, os quatro nomes cogitados para acrescentar às candidaturas praticamente lançadas não vão poder somar os sufrágios necessários para evitar a maioria absoluta da atual presidente da República no primeiro confronto. São nomes pouco conhecidos e, ainda por cima, dispõem de espaços muito pequenos na TV e no rádio. Não vão funcionar ao ponto de somar apoios que transfiram a decisão do primeiro para o último domingo de outubro de 2014.

Pela leitura de hoje, somente Marina Silva seria capaz de levar a disputa do primeiro para o segundo turno. Porém seu nome, da mesma forma que o de José Serra entre os tucanos, abrirá cisões estaduais reduzindo o potencial de votos. Não se deve esquecer que Marina Silva, logo após ingressar no PSB, atirou em Ronaldo caiado afastando o DEM de qualquer aproximação com Eduardo Campos. Talvez, inclusive, a atitude faça parte de um plano político para substituí-lo como candidata ao Planalto. Em política, aliás como tudo na vida, não existe ação sem reação, nem movimentos voltados para não alcançar efeitos concretos. Como digo sempre, não basta ver os fatos, é essencial sobretudo ver nos fatos. Traduzi-los, identificando-se as atmosferas que os envolvem.