Por Jamildo Melo

 

Sem os nanicos, o primeiro confronto do segundo turno entre os candidatos a presidente perdeu em graça, mas ganhou em combatividade. Não foram poucos os momentos em que Aécio e Dilma trocaram farpas. O que faltou foi mais propostas, do que uma verdadeira guerra de estatísticas decoradas por ambos os lados.

Com larga experiência no Legislativo e no Executivo, o mineiro levou nítida vantagem sobre a presidente no quesito desenvoltura na TV. Dilma por diversas vezes gaguejou, não conclui frases e turvou o próprio raciocínio.Já o mineiro abusou das ironias, em tom ferino sempre, na tentativa de apresentar-se mais qualificado que a rival.

Também ficou clara a intenção da petista em usar as duas gestões do ex-governador em Minas para tentar desconstruí-lo, mas não é pacífico que tenha obtido êxito, em função da boa retórica do oponente. Na verdade, trata-se de uma repetição das inserções de rádio e TV, em que um interlocutor com voz grave diz que quem conhece não vota em Aécio, numa referência à vitória do PT em Minas, nestas eleições.

Em dado momento, pareceu desculpar-se por falar tanto em Minas. Neste diapasão, criticou saúde, segurança e educação por lá, sem deixar de fazer uma denuncia de nepotismo contra Aécio, com irmã, tio e sobrinhos. Só que o tucano pediu que explicasse onde foram empregados e Dilma não esclareceu.

Já a estratégia do tucano, sempre frisando a necessidade de generosidade, foi elogiar o período de Lula, para realçar as eventuais falhas da sucessora dele, enquanto pede que se olhe para o futuro. No ar, em contraponto, Dilma chegou até mesmo a vocalizar o discurso do medo, para o qual Aécio Neves retrucou com o baixo desempenho da economia.

O bloco mais polêmico e quente foi o segundo, em que o debate sobre a corrupção propiciou mais caneladas entre os contendores. A petista jogou a denuncia de construção de um aeródromo em Cláudio, interior de Minas, nas terras de um familiar, para detona-lo. O mineiro devolveu com os problemas na Petrobras e chegou a citar a polêmica e custosa refinaria Abreu e Lima, de Suape.

Uma das discussões mais infrutíferas deu-se em torno da paternidade do Bolsa Família, como se a discussão da política pudesse ser congelada a partir da formulação do programa e não a superação da pobreza. Espirituosa, Dilma disse que Aécio estava fabulando, coisa para bombar na internet. O tucano frisou que o maior programa de renda foi estabilização da economia, no governo FHC.

No the end, Aécio Neves pareceu ainda aproveitar melhor as considerações finais, ao lembrar o apoio de Renata Campos e Marina, nos últimos dias. Dilma prometeu um novo ciclo de desenvolvimento. E aí, quem venceu o debate?