Pedro do Coutto

No seu primeiro pronunciamento depois de ter seu nome formalizado pela presidente Dilma Rousseff como novo ministro da Fazenda, reportagem de Marta Beck, Cristiane Jungblut Catarina Alencastro, O Globo de sexta-feira, Joaquim Levy anunciou uma política gradual de ajuste fiscal com meta para três anos: 2015, 2016 e, portanto, 2017. Acentuou um superávit de 1,5% respectivamente em 2016 e 2017.

Ressaltou, dessa forma, sua confiança em poder executar seu projeto, junto com Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, pelo menos até a fase final do segundo mandato de Dilma Rousseff. “A autonomia – disse – acho que está dada”.

Portanto, preparem-se todos para os cortes nos gastos públicos. Um deles, inclusive, foi diretamente focalizado por Levy: o repasse de recursos do tesouro ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, sistema adotado pela gestão atual, especialmente em 2014 para refinanciar compromissos financeiros da União e de empresas estatais.

A compressão das despesas será, portanto, bastante sensível. Logo de início um embate à vista com as forças parlamentares em torno do aumento de vencimentos do funcionalismo. Superada esta fase, através de acordo, como os sintomas indicam, terão que ser encontrados recursos financeiros que evaporam através de obscuros investimentos da Petrobrás que produziram grandes lucros a pessoas que, inclusive em certos casos, dispõem-se a devolver as parcelas mais aparentes.

BASE POLÍTICA

De qualquer forma, o governo Dilma Rousseff nunca dependeu tanto de sua base política, uma vez que as medidas, não declinadas, mas embutidas nos princípios de Joaquim Levy, não podem ser classificadas como populares. Daí porque seu nome só foi revelado publicamente depois das urnas de outubro.

Surpresa? Nem tanto. Como o ministro Guido Mantega encontrava-se de fato demissionário, o nome de Levy circulava no noticiário, provando, uma vez mais que segredo não existe em caráter permanente. Acaba vazando. O que no início era uma informação transformou-se numa confirmação. Da mesma forma que o reajuste real dos preços dos combustíveis e das tarifas públicas, dentro do princípio eterno de que não há débito sem crédito e vice-versa.

Tem que se definir, isso sim, a dose suportável pela sociedade. Aí é que entra inevitavelmente o papel que vai caber à base política. Essencial para que o choque que está vindo não se transforme em vendaval. O período do voto passou. O das ilusões também. Agora o jogo é outro e não se pode escapar da verdade dos fatos.

Nem no plano econômico, tampouco na área política. A convergência é fundamental. Cabe à presidente assegurá-la. A unidade do projeto é difícil. Mas é o único caminho, a única opção.