Por Flávio José Bortolotto

O governo, com crescimento econômico muito baixo e dois trimestres negativos ( 1º e 2º trimestres de 2014 ), o que caracteriza recessão, a meu ver no curto prazo, tecnicamente fez o que tinha de fazer, executar medidas anticíclicas via gasto do superávit primário, para ativar ao máximo a fraca demanda.

Não é um caminho sem custo, mas é o de menor custo quando se está em recessão. O governo Dilma, economicamente errou em muitas coisas, criando instabilidade no mercado, (falta de diálogo com os agentes econômicos, deixando especialmente de ”tomar umas pingas com o Pessoal da FIESP”, para saber como está “o clima” na Economia, trocar ideias, fazer sondagens, como está a lucratividade nas empresas etc.

Ao mesmo tempo, fez interferência pesada nos mercados, congelando preço da gasolina/diesel/etanol etc., rebaixando a tarifa da energia elétrica (residencial, cerca de 30%, e industrial , 35%), forçando a renovação de contratos de 30 anos com as geradoras e no fim não podendo sustentar, elevando de novo os preços, com desonerações e onerações pontuais que geraram incertezas etc., etc. Porém, a meu ver, no caso da lei que mudou o superávit primário, não errou, pois assim preservou o emprego. O erro maior foi feito antes, de 2003 a 2010, quando a conjuntura internacional foi francamente favorável, e o governo não aproveitou para reduzir nosso duplo déficit – o fiscal, de 3,5% do PIB ou R$ 175 bilhões/ano, com o governo sempre gastando mais do que arrecada, e o do balanço de pagamentos internacional , saindo sempre mais riquezas do que entram no Brasil (hoje, cerca de US$ 100 bilhões ou R$ 258 bilhões/ano).

ARRUMAR A CASA

O novo czar da economia Joaquim Levy tem que reduzir os gastos (já tem um pacote fiscal de cortes de cerca de R$ 50bilhões) e, a meu ver, deverá aumentar a carga tributária em R$ 100 bilhões, reduzindo o déficit fiscal, portanto, de R$ 250 bilhões para R$ 100 bilhões em 2015, e um pouco mais para 2016. Para reduzir o déficit do balanço de pagamentos, deve melhorar o desempenho de nossa balança comercial (exportações líquidas), e praticamente a única maneira de fazer isso rápido é desvalorizando o câmbio. Com um real mais desvalorizado em relação ao dólar, exportamos mais e importamos menos. Mas tem que fazer isso sem recessão, pode até crescer bem pouco em 2015, só não pode encolher, e a inflação terá que tender para o centro da meta, e o câmbio tem que ser manejado de forma “lenta, gradual e segura” para dar tempo de as empresas endividadas em dólar irem saindo da arapuca. É uma bela tarefa que tem pela frente o ministro Joaquim Levy, que terá que caminhar pelo menos por dois anos “no fio da navalha”.