Por Flávio José Bortolotto

Excelente e útil pesquisa será feita pelo sociólogo Jessé Souza, novo presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), órgão subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Seu objetivo é estabelecer a verdadeira dimensão da classe média no Brasil.

Para tentar resolver um problema, a primeira premissa é conhecer a realidade dos fatos.
Aqui na Tribuna da Internet, o grande jornalista Pedro do Coutto chama atenção para a disparidade dos dados da propaganda do governo (PT-base aliada) sobre o surgimento de nova classe média. Com toda razão, Coutto diz que é preciso levar em conta a real capacidade de consumo da população.

É inegável que nos últimos 12 anos houve no Brasil alguma ascensão social, ou seja, mais famílias saíram da linha da miséria e da pobreza, para ascender à classe média baixa. Se isso não tivesse ocorrido, o PT não teria ganhado as eleições. Porém, em sua propaganda, o governo usa números muito baixos não só para definir a linha que separa a miséria e a pobreza, como também para definir a linha que separa a pobreza e a classe média.

ENTENDA OS NÚMEROS

O Brasil usa uma sistemática que define a família padrão como tendo quatro membros (pai, mãe e dois filhos). A linha de pobreza é definida quando a família tem renda equivalente a três cestas básicas por mês, o equivalente a R$ 1.136,58. Ou seja, a família padrão, ganhando menos que R$ 1.136,58 por mês, está na miséria, e recebendo mais, está na pobreza.

Já a linha de classe média é definida pelo governo em duas vezes o limite da miséria/pobreza, com renda mensal de R$ 2.273,16. Portanto, a família padrão, ganhando menos que R$ 2.273,16 por mês, estaria na pobreza, e ganhando mais, chegaria à classe média.

Vemos que são números tipo mínimo minimorum, que mascaram uma realidade perversa. Para haver justiça social e distribuição de renda, é preciso que haja pouca diferença entre os menores salários e os maiores.

Neste ponto, temos de concordar com o comentarista José Gulherme Schossland, quando afirma que o ideal seria haver uma remuneração máxima igual ou menor que 10 vezes a remuneração mínima. Aí, sim, teríamos uma verdadeira sociedade de classe média.