Por Carlos Newton

Quem ainda não acreditava na possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff agora terá de mudar de opinião. A explosiva reportagem da Veja que está nas bancas, sobre o explosivo depoimento do empresário Ricardo Pessoa, presidente da empreiteira UTC e coordenador do cartel da Petrobras, traz a público o que faltava para justificar a cassação do mandato, porque a revista desta vez exibe documentos que comprovam o uso de doações ilegais para abastecer a vitoriosa campanha eleitoral da candidata petista, configurando ocorrência de gravíssimo crime eleitoral.

A reportagem de Robson Bonin mostra que o engenheiro Ricardo Pessoa de fato fazia jus à fama de ter grande capacidade de organização, pois guardava secretamente uma série enorme de notas, documentos e até planinhas sobre movimentações financeiras, manuscritos de reuniões e agendas que fazem do seu acordo de delação um dos mais contundentes e importantes da Operação Lava-Jato.

O material constitui um verdadeiro inventário da corrupção. Em uma série de depoimentos aos investigadores do Ministério Público, Pessoa detalhou o que fez, viu e ouviu como personagem central do escândalo da Petrobras. Na sequência, apresentou os documentos que, segundo ele, provam tudo o que disse”, assinala o repórter da Veja, que teve acesso ao arquivo do empreiteiro.

DIRETO NA DILMA

Os documentos atingem diretamente o financiamento da campanha eleitoral de Dilma em 2014, através de seu tesoureiro, Edinho Silva, o atual ministro da Comunicação Social. O dono da UTC diz que doou 7,5 milhões de reais à campanha depois de ser convencido por Edinho Silva mediante uma típica ameaça velada.

O senhor tem obras no governo e na Petrobras, então o senhor tem que contribuir. O senhor quer continuar tendo?“, perguntou o tesoureiro do PT ao empreiteiro, que preferiu não interpretar como ameaça, mas como uma “persuasão bastante elegante”. Na dúvida, “para evitar entraves” nos seus negócios com a Petrobras, decidiu colaborar para que o “sistema vigente” continuasse funcionando. “Foi um achaque educado”, segundo o repórter Robson Bonin.

A denúncia não tem condições de ser desmentida por Edinho Silva, porque quem apareceu em nome dele para fechar os detalhes da “doação”, segundo Pessoa, foi Manoel de Araujo Sobrinho, o atual chefe de gabinete do ministro. Em plena atividade eleitoral, Manoel se apresentava aos empresários como funcionário da Presidência da República. Era outro recado elegante para que o alvo da “persuasão” soubesse com quem realmente estava falando.

 Neste documento acima, Ricardo Pessoa registrou a ‘doação legal’ à campanha de Dilma, com os nomes do tesoureiro Edinho Silva e seu braço-direito Manoel de Araujo

CRIME ELEITORAL

A legislação exige que toda doação a campanha seja feita em cheques cruzados e nominais, transferência eletrônica ou depósito de pessoa física em dinheiro até 10% da renda anual bruta.

O empresário Ricardo Pessoa agora vai depor especificamente sobre isso na ação contra Dilma que corre na Justiça Eleitoral, movida pelo PSDB. E o fato é as provas já se acumulam. No caso de cassação da presidente Dilma Rousseff por este tipo de crime, que é cada vez mais provável, o mandato do vice Michel Temer também será atingido, com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) assumindo o restante do mandato na condição de segundo colocado na eleição, tal como ocorreu no Maranhão em 2009, quando a segunda colocada Roseana Sarney assumiu no lugar do então governador Jackson lago (PDT), cassado por abuso de poder. Acredite, se quiser.