Por Bernardo Mello Franco

A semana forneceu novos exemplos do desmanche acelerado da base parlamentar de Dilma Rousseff. Em dois dias, a presidente sofreu duas derrotas duríssimas no Congresso. O Senado aprovou o aumento dos servidores do Judiciário, e a Câmara abriu caminho para a redução da maioridade penal.

Em ambos os casos, o Planalto perdeu de lavada. No Senado, o PT ficou isolado, e o massacre tomou proporções épicas: 62 votos a 0. Dilma vai vetar o reajuste bilionário, mas corre o risco de ter a decisão derrubada pelo Legislativo.

A bomba orçamentária foi detonada com o apoio de nada menos que oito partidos que comandam ministérios: PMDB, PDT, PP, PR, PSD, PTB, PRB e PC do B. A tropa de infiéis é tão grande que não faz mais sentido falar em traição. A palavra que resume a nova atitude das siglas em relação a Dilma é abandono.

IMPOPULARIDADE

Com a presidente batendo recordes de impopularidade, sumiram os aliados dispostos a se sacrificar por ela. Bastam algumas buzinas para que qualquer grupo de servidores passe a ter mais força que o Planalto em votações importantes.

Criou-se uma equação boa para os partidos e ruim para o governo. Como Dilma não tem condições políticas para demitir ministros, as siglas continuam a se lambuzar de verbas sem apoiá-la. Casos pontuais, como as MPs do ajuste fiscal, são negociados no balcão de secos e molhados do vice Michel Temer.

Quando Marina Silva decolou na campanha de 2014, Dilma assombrou o eleitor com a ameaça de que a rival não teria maioria para governar. “Sem apoio no Congresso, não é possível assegurar um governo estável, sem crises institucionais”, afirmou, em debate no SBT.

No dia seguinte, a propaganda petista comparou a adversária a Jânio e Collor, presidentes que tentaram governar sem maioria e não conseguiram completar o mandato. Marina perdeu, mas o fantasma agora se volta contra Dilma.