Por Pedro do Coutto

O ex-presidente Lula – reportagem de Natuza Nery, Marina Dias e Valdo Cruz, Folha de São Paulo, edição de 18 – chegou a Brasília na quinta-feira e, à noite, depois de um diálogo com a presidente Dilma Rousseff, decidiu ir às ruas pedir o apoio popular ao projeto de reforma que ela encaminhou ao Congresso. A matéria acentua que o antecessor passou a considerar imprescindível um esforço para mantê-la no poder.

Chegou à conclusão – digo eu – de que finalmente descobriu (e revelou indiretamente) que Dilma Rousseff é a maior adversária política de si mesma. Afinal de contas ela sucedeu a si própria no Palácio do Planalto. Se a situação econômica tornou-se crítica, assinala ser uma consequência do primeiro ciclo de seu governo. Lula sabe muito bem que a aprovação do impeachment é extremamente difícil, porém a apresentação de tal projeto é fácil. Aliás, como aconteceu na tarde também de quinta-feira, quando Eduardo Cunha recebeu um pedido de impedimento. Neste momento, a repercussão política pesa muito contra o governo.

Torna-se um fator a mais de desequilíbrio e, como escreveram Natuza, Marina e Valdo, pode influir no temor de que ela perca as condições de governar. Afirmei há pouco que Rousseff é a maior adversária de Dilma. Claro. Quem é responsável por ter assumido compromisso na campanha eleitoral, dizendo uma coisa e fazendo outra no governo, negando-se aos olhos de todos os eleitores? Ela própria. Quem, outro exemplo, represou os preços dos combustíveis e da energia, para liberá-los no alvorecer de seu segundo mandato? Quem escalou o ministério, dividindo-o em 39 pastas? Algo impossível de administrar e articular, inclusive por falta de tempo? Quem se propõe, agora, a congelar o reajuste salarial dos funcionários públicos? Quem, depois de dizer não gostar da CPMF, a apresentou ao Legislativo sob a forma de emenda constitucional?

RECUOS E MAIS RECUOS

Outras contradições, recuos e mais recuos, poderiam ser colocados como exemplos, mas este conjunto de indecisões já creio suficiente. O isolamento no governo é o reflexo. E o isolamento é fatal em política, sobretudo quando a rejeição é muito alta por parte da sociedade, como têm revelado as pesquisas do Datafolha e do Ibope.

Sentindo isso, Lula resolveu atuar junto a Dilma Rousseff, não para aprovar a CPMF, que sabe muito bem ser impossível. Mas para livrá-la do isolamento em que se encontra, aprisionada por uma equipe palaciana que vive se iludindo e, com isso, iludindo-a também. A equipe do Planalto a conduziu a uma série de atuações defensivas. Todos os dias, por exemplo, ela argumenta com a tese da legitimidade democrática de seu mandato. Não diz outra coisa. Não tenta efetivamente romper o isolamento. Não parte concretamente para uma reforma ministerial, não reconhecendo, portanto, que o atual é um fracasso.

Lula vai ajudá-la. Não creio no êxito do esforço, pois como o futebol o governo é um conjunto e os jogos se ganham no campo, não na teoria. De teoria a população está cheia. Até porque na teoria se resolve tudo. O desafio está na prática. Porém essa questão não interessa a Lula. Ele precisa se mostrar solidário. Até porque, ao contrário do que alguns do PT supõem, ele não tem outro caminho.

Ele pensa em 2018, claro. Mas tem certeza de que três anos fora do poder são uma eternidade. A força política desaparece como nuvem. E não tem cabimento torcer para time errado. É o que Dilma está fazendo.