Por Luiz Tito / O Tempo

Os números expostos pelas estatísticas oficiais sobre o flagelo gerado pelo mosquito aedes aegypti demonstram, paralelamente ao descaso dos setores encarregados pela concepção e aplicação das políticas públicas de saneamento básico e saúde, a irresponsabilidade da sociedade, sem exceções, na geração e no acúmulo do lixo urbano e periurbano, o desinteresse pela própria saúde e a nossa mania de esperar que tudo seja resolvido pelo poder público. Para não ser contraditório: 1 – há sim a inércia, os equívocos de gestão de recursos e identificação de prioridades; 2 – a sociedade quer saber de se proteger com repelentes e a própria casa, e o resto que se f…

Em 1904, nomeado o que seria equivalente ao atual ministro da Saúde, o sanitarista Oswaldo Cruz deu continuidade ao plano por ele coordenado de modernização do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro, capital federal. O plano consistia na retirada daquela região central da cidade de construções que contribuíam na forte propagação de doenças graves, infectando toda a população, além da obrigatoriedade de vacinação contra a varíola. Oswaldo Cruz recrutou brigadas para entrar nas casas, nos espaços públicos, retirar lixo e entulho e vacinar a população (a força). Nasceu dessa ação enérgica e determinada o que a história chamou de “A Revolta da Vacina”, movimento popular que incendiou a vida no Rio de Janeiro.

Vejamos a evolução da situação: no dia 31 de outubro, a Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha ainda não era seu presidente) votou em dois dias a lei que obrigava a população a tomar a vacina; no dia 10 de novembro, revoltosos incendiaram bondes, carroças, saquearam lojas, contra tais obrigatoriedades e protestando contra a limpeza da cidade. A situação ficou incontrolável, com dezenas de mortos e feridos. O presidente Rodrigues Alves (também não era a Dilma que se equilibrava no poder) suspendeu a vacinação, decretou Estado de Sítio, prendeu os que enchiam o saco, deportou para o Estado do Acre aqueles que precisavam se acalmar (naquele tempo, ganhava-se viagem para o Acre, ao contrário de hoje, que os escolhidos vão para Curitiba) e no dia 16 de novembro a vacinação e o trabalho das brigadas, com 1500 pessoas, voltaram a funcionar.

PROLIFERAÇÃO

Andando pelas cidades brasileiras, de qualquer tamanho ou importância, é fácil identificar nos lotes vagos, nos ferros-velhos, nos depósitos de veículos apreendidos, nas borracharias, nas favelas que se multiplicam, onde nasce e se ampliam a dengue, a chikunguya, a microcefalia e de onde pode voltar, inclusive, a febre-amarela urbana, essa última considerada erradicada na década de 40, graças ao trabalho liderado por Oswaldo Cruz, que não tinha parceria com laboratórios, não era candidato nem precisava do voto de ninguém e não fora indicado por nenhum partido político. Era um sanitarista, um homem comprometido com suas ideias e com a solução das demandas de sua área. Por isso, fez o que para tal fora nomeado. E ponto final.