Por Carlos Chagas   

Do jeito  que transcorrem as preliminares da formação do ministério de Michel Temer, deveria o PT estar soltando foguetes. Porque está recebendo a oposição de bandeja, com tapete vermelho, flores e tudo o mais. Uma vez caracterizada como definitiva, a ascensão do vice-presidente ao palácio do Planalto jogará os companheiros nos braços da maioria da população. O que Dilma não conseguiu, seu sucessor já começou a obter.

Basta atentar para as primeiras iniciativas de Temer, já parcialmente anunciadas. Trata-se do retorno aos tempos bicudos da prevalência de privilégios das elites e de sacrifícios para as massas trabalhadoras.

Para começar, a troca de direitos dos assalariados, expostos na Consolidação das Leis do Trabalho, dos anos quarenta, pela execrável livre negociação entre patrões e empregados. Como vimos afirmando há dias, o diálogo entre a guilhotina e o pescoço.

O empresário que pretender reduzir pela metade o salário de seus empregados se limitará a convocá-los e oferecer, como alternativa para as demissões sumárias, a aceitação da metade do que recebem.

“LIVRE NEGOCIAÇÃO”

Da mesma forma, pela “livre negociação”, poderão ser ampliadas as oito horas de trabalho diários, assim como suspenso o pagamento de horas extraordinárias. E mais a indenização por dispensas imotivadas. Assim como as férias de trinta dias e o adicional de periculosidade e de trabalho noturno.

Nem se fala da reforma da Previdência, com as aposentadorias autorizadas apenas depois dos 65 anos para homens e mulheres. Também, pela “livre negociação”, será desvinculado do salário mínimo todo tipo de aumento salarial.

ANSEIOS DAS ELITES

E quanta coisa a mais que os jornais publicam diariamente, eufóricos por representarem os anseios das elites às quais pertencem? Se tiver sensibilidade, o PT se transformará na grande oposição, podendo cooptar boa parte da votação dada a Aécio Neves nas eleições de 2014. Claro que será preciso uma ação eficaz das centrais sindicais e congêneres.

Já comemoram sua presença no novo governo os futuros  titulares da  Casa Civil, Articulação Política,  Planejamento, Fazenda, Saúde  e outros representantes da turma do retrocesso. Talvez repouse nessas previsões a decisão ontem anunciada por Michel Temer, de não concorrer às eleições de 2018. A explicação é óbvia: com seu atual programa, fatalmente perderia…