Por Magno Martins

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) usa, hoje, a tribuna do Senado, no terceiro dia de sessão do seu julgamento, como última cartada para salvar o seu mandato.  Em relação ao tom do seu pronunciamento, o fato mais importante nesta fase final e definitiva, as opiniões das pessoas mais próximas à presidente estão divididas. Algumas defendem que ela faça uma manifestação em defesa da soberania popular e da Constituição, enquanto outras preferem que, além disso, direcione críticas mais contundentes ao presidente interino Michel Temer, à equipe ministerial e aos senadores que mudaram de lado.

O discurso já está pronto desde a semana passada, mas nos últimos dias que antecedem sua ida ao Congresso recebeu sugestões de aliados como os ex-ministros José Eduardo Cardozo (responsável pelo teor jurídico da fala e por preparar Dilma para os questionamentos dos senadores), Miguel Rossetto, Jaques Wagner e Aloizio Mercadante. As anotações foram aceitas e deixaram a sua fala mais contundente ainda.

“Trabalhamos com um cenário de reversão. O discurso será forte, histórico. Ficará ainda mais claro que a presidente não cometeu nenhum crime e está sendo substituída por um presidente interino e por ministros envolvidos em suspeitas de corrupção. Temer e sua equipe entram para a história como traidores”, disse, ontem, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), uma das aliadas mais fiéis da petista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também colaborou no sentido de que está em curso um golpe. Para Lula, “Temer, por ser um constitucionalista, sabe que se trata de um golpe”. A fala de Dilma deve ser centrada em pontos que já vêm sendo destacados por ela, como a defesa de que não cometeu crime de responsabilidade e que não pode ser julgada pelo “conjunto da obra” do seu governo — expressos na carta apresentada aos senadores.

A ida de Dilma ao Senado é encarada como o episódio mais importante do julgamento. “Este é o fato novo do processo. Todos já conhecem o depoimento das testemunhas”, disse o senador Reguffe (sem partido-DF), ao falar sobre a presença da petista no plenário. Dilma terá 30 minutos pra se manifestar, com o tempo podendo ser prorrogado a critério de Lewandowski. Depois, cada senador terá dez minutos para questioná-la.

“É imprevisível o que poderá acontecer”, comentou o senador José Agripino (DEM-RN). Na visão do presidente nacional do DEM, porém, não deve ocorrer mudança de placar. Ou seja, que será repetido o placar das outras votações, todos desfavoráveis a Dilma. “Não terei a ousadia de pré-estabelecer (o resultado), mas a tendência pelo pronunciamento dos demais senadores é que isso será mantido, tem sido a rotina nas outras votações”, acrescentou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Na visão dele, Dilma “deve explicações ao Brasil”. E tende a usar seu pronunciamento para “minimizar os danos” que ela teria causado durante seu governo. Em encontro, ontem, no Palácio da Alvorada, senadores aliados de Dilma simularam perguntas que a base governista de Temer deve fazer a ela. E reforçaram que a presença dela reforça a linha de argumentação usada pelos senadores de PT, PCdoB e PDT durante toda a discussão do impeachment no Senado.