Por Daniel Carvalho, Gustavo Uribe e Valdo Cruz / Folha

Em meio ao agravamento da crise política e à piora na avaliação da administração do presidente Michel Temer (PMDB), partidos da base aliada na Câmara ameaçam deflagrar uma rebelião contra propostas de interesse do Palácio do Planalto. Numa queda de braço para a indicação do novo ministro da Secretaria de Governo, as siglas do chamado “centrão”, que reúne partidos médios como PP, PSD e PTB, discutem o boicote a medidas do governo, como a reforma da Previdência e outras iniciativas que podem ser consideradas impopulares.

Em paralelo, um grupo dentro do PSB passou a pressionar pela saída imediata do partido da administração federal, o que, se concretizado, seria a primeira perda na base de apoio do presidente no Congresso Nacional desde que ele assumiu o Palácio do Planalto, em maio. No sábado (10), o diretório estadual do PSB no Rio Grande do Sul aprovou moção pelo desembarque da legenda do governo federal por não concordar com os rumos da gestão peemedebista.

TEMER PREOCUPADO – A iniciativa preocupou o presidente Michel Temer, que discutiu o tema nesta segunda-feira (12) com o ministro Fernando Bezerra Filho (Minas e Energia), do PSB. Ele garantiu a Temer que a pressão é restrita à seção do Rio Grande do Sul e não terá apoio do restante do partido neste momento.

O governo quer conter este movimento do PSB para evitar que outras legendas aliadas possam fazer o mesmo tipo de ameaça contra o Palácio do Planalto, visando garantir benefícios federais.O presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, também negou que uma saída imediata seja discutida pela cúpula nacional da sigla.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA – Siqueira reconheceu, no entanto, que o PSB tem divergências com o governo federal em relação a pontos da reforma previdenciária apresentada pelo Palácio do Planalto. Nesta segunda-feira (12), inclusive, o partido decidiu obstruir votação da admissibilidade da proposta na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), reconheceu que a movimentação da sigla contra a reforma previdenciária já tem repercussão em outros partidos da base aliada. “Quando o PSB toma uma posição como esta, gera uma ruído na base. Precisamos discutir internamente isso na base porque está gerando um ruído que não é bom”, disse.

INDEPENDÊNCIA – O deputado federal Julio Delgado (PSB-MG) disse que seu partido não faz parte da base aliada e tem posição de independência, apesar de comandar um ministério. “Foi uma decisão por ampla maioria já na quinta-feira (8), antes da delação premiada da Odebrecht e da pesquisa dizendo que o governo está mal”, afirmou.

Na mesma comissão, contrariando o governo federal, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), fez coro aos partidos de oposição e pediu que seja adiada a votação da reforma previdenciária. Os partidos do “centrão” se irritaram com a possibilidade de o presidente nomear o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA) para a Secretaria de Governo e cobram de Michel Temer uma manifestação de que ele não irá interferir na eleição da Mesa Diretora da Câmara, em fevereiro de 2017. A leitura que eles fazem é que a indicação do tucano é uma sinalização do apoio do Palácio do Planalto à recondução do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Com receio de retaliação dos partidos do “centrão”, o presidente pretende nomear Imbassahy apenas após a votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), programada para quarta (14), ou até deixar para fevereiro, após a eleição do comando da Câmara.