Por Eduardo Bresciani / O Globo

A empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, relatou que ela e o marido cobraram diretamente a ex-presidente Dilma Rousseff por atrasos no pagamento de caixa dois relativo à campanha de 2014 e que em sua agenda o ministro Guido Mantega era apelidado de “Latícinio” em um trocadilho com o sobrenome do ministro e a palavra manteiga.

O tema é tratado no anexo 9 da delação da empresária. Ela conta que em junho de 2014 Dilma disse a Santana que não confiaria ao tesoureiro João Vaccari os repasses porque na eleição anterior teria ocorrido desvio em pagamento direcionado ao marketing. “Isso para evitar o que ocorrera na primeira eleição, quando soube que parte do dinheiro destinado para o marketing fora transferido para “um pagamento insólito e inesperado”, diz trecho do anexo. A presidente Dilma teria prometido ainda ao marqueteiro que não ocorreria mais atrasos, como houve no pleito anterior.

MANTEGA CUIDARIA – Segundo o relato, Giles Azevedo, então chefe de gabinete de Dilma, ligou para Mônica informando que o ministro Guido Mantega cuidaria do tema. Depois de diversas reuniões acertou-se o valor de R$ 105 milhões, sendo que R$ 35 milhões seriam pagos por fora, ficando este montante a cargo da Odebrecht. Mônica conta que as reuniões ocorreram na residência oficial do ministro e como prova anexou passagens aéreas e cópias de anotações na sua agenda em que aparecem registros de reuniões com “Latícinio”. No documento, a empresária explica: Reunião com “Laticínio”, relativo a Guido Mantega.

Ela conta que negociou com dois executivos da Odebrecht o pagamento, mas que como a empreiteira já era alvo da Lava-Jato o casal recebeu apenas R$ 10 milhões por fora. Diante dos atrasos no pagamento dos R$ 25 milhões restantes, Mônica diz que ela mesmo cobrou a presidente Dilma durante intervalos de gravações de pronunciamentos no Palácio da Alvorada e que Dilma se dizia disposta a ajudar. O montante, porém, nunca foi pago.

SEM PAGAR  – “Finda a campanha, e como os atrasos permaneciam por mais de dois anos, Mônica Moura aproveitou algumas circunstâncias para tratar diretamente do assunto com a presidente Dilma Rousseff. Isso se deu em conversas particulares entre as duas, nos intervalos de gravações de pronunciamentos oficiais que João Santana dirigia, no Palácio da Alvorada.

A presidente sempre se dizia disposta a ajudar e, desde o início, tinha pleno conhecimento de que a Odebrecht ficara responsável pelo pagamento, não oficial, de R$ 35.000.000,00 (trinta e cinco milhões de reais)”, afirma Mônica.