Moro está analisando pedido do MPF para realizar perícia nos recibos de aluguel do imóvel que fica ao lado do apartamento do ex-presidente Lula.

O juiz Sérgio Moro está analisando um pedido do Ministério Público Federal para realizar uma perícia nos recibos de aluguel do imóvel que fica ao lado do apartamento do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo. Segundo os procuradores, os recibos são ideologicamente falsos.

O Ministério Público Federal afirma que há indicativos de falsidade nos 26 recibos de aluguel apresentados pela defesa de Lula. Os procuradores querem que o ex-presidente entregue os recibos originais para que sejam periciados e informe onde foram encontrados e por quem.

Lula é acusado de ter recebido o apartamento, em São Bernardo do Campo, como propina da Odebrecht. O ex-presidente nega. Caso o juiz Sérgio Moro autorize a perícia, o trabalho será feito por peritos da Polícia Federal.

A perita Nadir Vargas, do Instituto de Criminalística do Paraná, explicou o que é levado em conta na análise: “Desde o seu papel suporte, os elementos de segurança que por ventura esse documento contém, o tipo de tinta utilizado para imprimir o texto desse documento e também a possível assinatura que esse documento precise ter para ser considerado legítimo ou não. Não existem muitos elementos técnicos a serem observados num documento assim tão simples, emitido de maneira informal.”

No pedido de investigação sobre os recibos, os procuradores da Lava Jato afirmam que os comprovantes apresentados foram feitos para dar aparência real ao falso contrato de locação do apartamento. E listam os motivos que colocam sob suspeita os documentos.

O Ministério Público Federal aponta que o dono do imóvel, Glaucos da Costamarques, admitiu ter assinado parte dos recibos num só dia, quando estava internado no hospital, que declarou à Justiça não ter recebido os aluguéis de fevereiro de 2011 a novembro de 2015, que os valores só começaram a ser pagos depois que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, foi preso pela Lava Jato, que não existe movimentação financeira compatível com os pagamentos a Glaucos nas contas bancárias dos investigados e também não há nenhuma referência ao aluguel na planilha de despesas domésticas encontrada na residência de Lula.

Os procuradores dizem ainda que os recibos só foram apresentados na fase final do processo. Por isso, os investigadores afirmam que, sem margem à dúvida, os recibos são ideologicamente falsos.

Além da perícia nos documentos, os procuradores pedem que Sérgio Moro ouça novamente Glaucos da Costamarques e o contador João Muniz Leite, que já prestou serviços ao ex-presidente e teria levado parte dos recibos ao hospital para que Glaucos assinasse de uma só vez.

O que dizem os citados

A defesa do ex-presidente Lula afirmou que a realização de perícia vai demonstrar que os documentos são idôneos e foram assinados pelo proprietário do imóvel para Dona Marisa, que contratou a locação, e que o questionamento é uma tática ilusionista de quem não conseguiu provar que valores provenientes de contratos da Petrobras beneficiaram o ex-presidente Lula.

A defesa de Glaucos da Costamarques afirmou que concorda com o posicionamento do Ministério Público Federal de investigar os recibos e reafirmou que Glaucos contou a verdade no interrogatório na Justiça Federal. O contador João Muniz Leite disse que confirmou que colheu, no mesmo dia, a assinatura de Glaucos em parte dos recibos.