Por Josias de Souza

Nenhum outro partido ilustra de forma tão paradigmática a crise que se abateu sobre a política brasileira do que o PSDB. Nascido de uma costela do PMDB, o partido fazia pose de representante da ética e da modernidade. Até bem pouco, apresentava-se como um contraponto à devassidão do PT. Hoje, frequenta o centro do palco como uma aberração circense: é o primeiro partido da história a ser comandado por um defunto político. Chama-se Aécio Neves. Voltou à vida para matar a presidência interina de Tasso Jereissati.

No momento, o PSDB dedica-se a testar até onde pode ir no seu desprezo pela opinião pública. Ao desafiar a própria sorte de maneira tão desassombrada, o tucanato revela que não se deu conta de que a roleta russa também é uma modalidade de suicídio.

Desde que Aécio Neves virou um colecionador de inquéritos criminais, o PSDB teve várias chances de se livrar dele. Na última oportunidade, os senadores tucanos, entre eles Tasso Jereissati, ajudaram a anular as sanções que o Supremo havia imposto a Aécio. Devolveram-lhe o mandato.

Os tucanos comportaram-se como o sapo da fábula, que concorda em ajudar um escorpião a atravessar o rio. No meio da travessia, o escorpião resolve picar quem o socorria. Por quê?, perguntou o sapo. Não resisti, é da minha natureza, respondeu o escorpião. O PSDB, autoconvertido em sapo, afunda num rio de lama abraçado a Aécio, seu escorpião de estimação.