Por André Singer – Folha de S.Paulo

 

A destituição do senador Tasso Jereissati (CE) da presidência do PSDB, nesta quinta, mostra como a crise vai dissolvendo as principais agremiações brasileiras. A intervenção violenta de Aécio Neves (PSDB -MG) indica que a cizânia na nação tucana, onde os tapas costumam ser de pelica, é profunda. Divididos entre os que desejam permanecer e os que precisam, por razões sobretudo eleitorais, sair do governo, os peessedebistas pagam agora o preço de ter aderido ao golpe parlamentar.

É curioso, contudo, que a ala hoje mais bem aninhada nos braços do poder federal seja a que mais hesitou em aderir ao impedimento golpista de Dilma Rousseff. O ex-governador mineiro apostou, quase até o último momento, na possibilidade de novas eleições serem determinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Coube à parcela serrista liderar, junto com o atual presidente da República, a montagem da máquina que derrubou a mandatária legitimamente eleita em 2014.

Por razões pouco claras, José Serra (PSDB-SP), que em 2015 funcionou quase como primeiro-ministro virtual de Temer, deixou Brasília e recolheu-se a São Paulo. Em compensação, Aécio, jogado em 2017 na mesma labareda que Temer pelas gravações de Joesley Batista, fez um pacto de salvação com o PMDB. Juntos serão forçados a articular uma opção de direita para 2018, representada na disputa interna do PSDB pela candidatura de Marconi Perillo. Não será fácil, tendo em vista a rápida ascensão de Jair Bolsonaro, encontrar o candidato ao Planalto que buscam.

Em torno de Jereissati se agrupam os que pretendem formular uma alternativa de centro, cujo nome para o ano que vem é Geraldo Alckmin. Querem associar os velhos preceitos éticos presentes na origem do PSDB a um programa de corte liberal na economia. Tudo embalado pela retórica de aproximação com o povo que o governador paulista tem ensaiado nos últimos meses, supondo que Lula seja impedido de concorrer. A montagem pode até dar certo, mas não convence. A Lava Jato escancarou o modo de financiamento da política em geral. Os indícios vão no sentido de que nenhum dos partidos ficou fora do esquema. Nesse contexto, a linguagem ética dos velhos tucanos soa decorativa.

Quanto ao ideário de mercado, entra em choque com a necessidade de se popularizar. Um se afasta do outro como dois ímãs que se repelem. Se Alckmin for capaz de convencer o eleitor de baixa renda que o mercado, desregulamentado, vai resolver os seus problemas, merece ganhar o prêmio Houdini de mágica discursiva. No conjunto, é a montagem institucional que vicejou sob a Carta de 1988 que se despedaça. Será difícil remontá-la.