Por Carlos Newton

Na política, as aparências enganam, mas tudo tem limite. O presidente Michel Temer e o ministro Henrique Meirelles são o que se pode chamar de “inimigos cordiais”. Antes do impeachment, Lula já vinha insistindo com Dilma Rousseff para que convidasse Meirelles para o Ministério da Fazenda, com objetivo de acalmar o mercado e recuperar a economia. Não se sabe ao certo o que aconteceu, se Dilma refugou ou se foi o próprio Meirelles que não aceitou. O certo é que, quando o impeachment se tornou inexorável, o vice Michel Temer se atirou nos braços de Meirelles e lhe deu carta branca na equipe econômica.

O novo ministro não tinha nenhum coelho na cartola, mas começou a fazer mágicas. Inventou um teto de gastos para dar resultado 20 anos depois, mandou cortar leis trabalhistas e privilegiar a terceirização e a pejotização, e só ficou faltando a reforma da Previdência.

SOLUÇÕES ILUSÓRIAS – Nenhum dos programas de Meirelles salvou a economia. A crise simplesmente chegou até o fundo do poço, não tinha mais como se aprofundar, e foi ocorrendo a retomada, até porque o Brasil tem uma economia muito diversificada e quase autônoma. Entre as 500 maiores multinacionais, mais de 400 operam no Brasil, porque o país é muito rico, tem um gigantesco mercado interno.

A volta do crescimento não foi motivada por nenhuma medida do governo, não houve qualquer “New Deal” (Novo Trato) no estilo de Roosevelt, nada, nada. Mas a dupla Temer e Meirelles (não necessariamente nesta ordem) se diz salvadora da pátria, embora nenhum dos dois verdadeiramente tenha colaborado para a recuperação dos negócios.

INIMIGOS CORDIAIS – Há vários meses Temer e Meirelles entraram em rota de colisão. Só há espaço para um candidato do governo. Se saírem dois, vão se automutilar e dividir os votos. Tornaram-se inimigos cordiais. Fingem que se dão bem, no entanto mal se suportam.

Na reta final, não há como negar que são candidatos. Há vários meses Temer contratou o marqueteiro Elisinho Mouco e instalou a equipe dele no quarto andar do Planalto, todos regiamente pagos pela agência de publicidade que serve ao Planalto, além de haver um contrato adicional do Ministério da Saúde com a agência de Mouco.

E Meirelles há vários meses também está em campanha, visitando igrejas evangélicas nas capitais e grandes cidades, enquanto sua equipe do PSD busca coalizões com outros partidos.

ROMPIMENTO – É só uma questão de tempo. Não tarda a ocorrer o rompimento entre Temer e Meirelles. Se os dois saírem candidatos, estarão derrotados por antecedência, porque vão dividir os possíveis votos dos 25% que supostamente apoiam o governo (segundo o Ibope, há 6% de bom/ótimo e 19% de regular).

Na quinta-feira, Meirelles falou por quase 10 minutos na TV, em horário nobre do PSD, e não citou o nome de Temer nenhuma vez. No dia seguinte, pela manhã, no encontro de fim de ano com os jornalistas, Temer perguntou a Meirelles se ele era candidato, e o ministro respondeu que somente decidirá em março.