Por Carlos Newton

Rodrigo Maia (DEM-RJ) realmente tem muita sorte. Até 2016, era um deputado federal sem expressão nem liderança, com dificuldades para se reeleger, filiado a um partido que caminhava para extinção. De repente, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi cassado, o cargo de presidente da Câmara ficou vago. O partido majoritário era o PMDB, mas  se tornara o deserto de homens e ideias apregoado por Oswaldo Aranha. O segundo maior partido, o PT, apresentou Arlindo Chinaglia, um candidato experiente, mas fraco. Assim, em junho de 2016 Rodrigo Maia acabou sendo eleito presidente da Câmara por eliminação, por 285 votos a 170, ao disputar o segundo turno contra Rogério Rosso (PSD-DF).

UMA REVELAÇÃO – Na direção da Mesa, Maia foi uma surpresa. Mostrou grande habilidade, aproximou-se do baixo clero, também conhecido como “centrão” e se tornou um líder de grande importância no Congresso. Em fevereiro de 2017, já estava absoluto e foi reeleito presidente da Câmara como muita facilidade, vencendo o primeiro turno com 293 votos. Em segundo lugar ficou Jovair Arantes (PTB-GO), com 105 votos; em terceiro, André Figueiredo (PDT-CE) com 59, seguido por  Julio Delgado (PSB-MG),  Luiza Erundina (PSOL-SP) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Demonstrando invulgar talento para negociações, Maia tomou à frente do DEM, ofuscando o presidente do partido, o experiente senador José Agripino Maia (RN), que vem a ser seu parente, do mesmo tronco da família Maia oriundo de Catolé do Rocha, na Paraíba, de onde se espalhou pelo Nordeste e pelo país.

ROTA TRAÇADA – Desde o início de 2017 Rodrigo Maia definiu sua trajetória política. Este ano, tem reeleição garantida como deputado e vai fazer campanha junto com o pai, Cesar Maia, que é novamente candidato a governador do Rio de Janeiro. Como puxador de votos, Rodrigo Maia quer eleger uma bancada forte. Sabe que em 2019 vai ser reeleito para a presidência da Câmara e presidirá um novo DEM revigorado.

Embora se envaideça com a possibilidade de ser candidato à Presidência, ele está consciente de que não é a sua hora e não pretende trocar o certo pelo duvidoso. Seu objetivo inicial era fazer o DEM disputar a sucessão com candidato próprio, para se fortalecer. No ano passado, Maia chegou a negociar a legenda com o prefeito tucano João Dória, promoveu também reuniões com o apresentador global Luciano Huck e conversou a respeito com o ministro Henrique Dornelles, que já tem legenda garantida no PSD e almeja fazer coligação com o DEM, que indicaria o vice, possivelmente ACM Neto.

ARDIL DO PLANALTO – De repente, por invenção do Planalto, que tenta desesperadamente inviabilizar a candidatura de Meirelles, começaram a circular informações de que Rodrigo Maia será candidato. O presidente da Câmara não desmente nem confirma, apenas aproveita a onda para aumentar ainda mais seu prestígio político.

Ele é um negociador nato, passou a ter grande importância na sucessão, porque o apoio do DEM fortalecerá muito qualquer candidatura de centro, centro-direita ou centro-esquerda. Ainda mais porque Maia passou a negociar também em nome do PP e do Solidariedade, presididos pelo senador Ciro Nogueira (PI) e pelo deputado Paulinho da Força (SP). Sozinhos, os partidos DEM, PP e Solidariedade pouco representam na sucessão, podem até lançar Rodrigo Maia como candidato, mas isso não significará quase anda. O importante é que estão unidos e aumentaram estupidamente seus cacifes eleitorais, em meio aos entendimentos em curso para fechamento das coligações.

Temer, Alckmin e Meirelles sabem que só terão chances se conseguirem se coligar com a tropa de choque de Maia, Nogueira e Paulinho. Até porque Rodrigo Maia é espertíssimo e não parou por aí. Agora, está procurando outros partidos para incorporar a seu grupo – os dois primeiros a serem abordados serão o evangélico  PSC, do pastor Everaldo Pereira,  e o PR, fruto da fusão do PL com o Prona, cujo presidente Antonio Carlos Rodrigues recentemente passou algumas semanas preso pelos federais. Mas isso é apenas detalhe, porque o que interessa mesmo é o tempo na televisão.