Tudo indica que o presidente Michel Temer ouviu o canto da sereia. A música embalada pelas vozes doces do Planalto é realmente tentadora. Se os partidos de centro procuram um candidato “reformista”, que defenda as realizações do atual governo, porque não poderia ser o próprio Temer?

Afinal, não foi ele que debelou a inflação e colocou a economia em rota de crescimento? Depois de umas das recessões mais profundas da história, as previsões apontam para um crescimento do PIB de 3% este ano.

Além das benesses de se manter no poder, um novo mandato evitaria também que ele finalmente fosse investigado pelas revelações feitas por Joesley Batista em sua delação. Sem a proteção do foro privilegiado, sua situação pode ficar bem complicada.

Para tentar viabilizar a candidatura, Temer agiu como o animal político que é: abandonou uma agenda impopular –a reforma da Previdência– para abraçar uma causa popular –a segurança pública.

Ao fazer uma intervenção no Rio de Janeiro, o presidente tenta descolar sua imagem dos políticos e atrelá-la aos militares. Seus marqueteiros fizeram o cálculo certo: 40% dos brasileiros confiam muito nas Forças Armadas, enquanto apenas 3% dizem acreditar no Congresso.

O problema é que a vaidade nunca é boa conselheira. A despeito do desempenho da economia, Temer paga um preço por sua falta de carisma e pela associação direta de sua imagem com a corrupção —vide o presidente “vampirão” do Carnaval.

De acordo com pesquisa Datafolha, apenas 6% da população considera o seu governo ótimo ou bom. Por outro lado, o percentual de ruim ou péssimo chega a 70%, e 60% dos brasileiros dizem que não votariam nele de jeito nenhum.

“Candidatos com mais de 30% de rejeição dificilmente se elegem. Podem até passar para o segundo turno, mas não ganham a eleição”, disse a esta colunista Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Ele ressalta que é provável que a intervenção no Rio e a retomada da economia ajudem a melhorar a avaliação do governo Temer, mas dificilmente o presidente vai voltar aos 14% de ótimo e bom registrados logo após o impeachment, porcentual que já era muito baixo.

Quando assumiu a presidência no lugar de Dilma Rousseff, Temer queria ser um líder reformista, que faria as reformas impopulares que o país precisa. Mas diante da imensidão do desafio, o político tomou o lugar do estadista e ele parece ter desistido de entrar para a história.

Fonte: Raquel Landim – Folha de S.Paulo