Ao pregar a resistência na tentativa de ser candidato a presidente neste ano e negar a existência de um amplamente conhecido plano B à sua ausência nas urnas, Luiz Inácio Lula da Silva acabou por destruir a narrativa escolhida pelo PT para descrever suas agruras judiciais. O ex-presidente Lula durante entrevista no instituto que leva seu nome, no Ipiranga (zona sul de SP) – Marlene Bergamo – 28.fev.2018/Folhapress

“Quando chegar o momento certo, o PT pode discutir todas as alternativas. Eu sou contra boicotar as eleições”, disse Lula em entrevista à Folha.

Com isso, vai ficar complicado para o partido manter o slogan  bolado para a virtual inelegibilidade de Lula devido à condenação em segunda instância por corrupção: “Eleição sem Lula é fraude”. Se o ex-presidente descarta boicotá-lo, o pleito pode ser qualquer coisa, menos uma fraude.

Assim, e ao dizer que qualquer presidente de esquerda precisará do PT para se eleger e presumivelmente governar, Lula também dá o sinal trocado para seu público. Mantém sua disposição pública de resistir, mas pisca para aquilo que está acontecendo em conversas reservadas, a busca por um nome para o substituir.

Deixa claro também que Ciro Gomes (PDT) está crescentemente distante de ser essa pessoa devido às suas críticas ao PT. No entorno do petista, há quem suspeite que Lula possa estar apenas aumentando o cacife em uma eventual negociação com o seu ex-ministro, mas o cisma parece um cenário mais provável.

Nas hostes petistas, o fato de a Polícia Federal ter alvejado Jaques Wagner tirou um tanto do lustro que o ex-governador baiano exibia como presidenciável. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e coordenador da pré-campanha de Lula, é a bola da vez.