Ciro e Boulos prometem colocar população no centro das decisões.

O assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco no Rio pode dar novo impulso às forças mais progressistas em torno de uma candidatura de esquerda, energizando a oposição?

Ainda não se sabe quem fez os ataques e os motivos. Mas o que se viu foram milhares de pessoas que se indignaram e voltaram às ruas. Não se via algo assim espontâneo, em várias cidades, desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff e das manifestações de 2013. Na avenida Paulista houve coros de “Fora, Temer” e palavras de ordem contra a PM do pré-candidato tucano Geraldo Alckmin. No Rio, Temer também foi alvo dos manifestantes. Em Brasília, o também pré-candidato Rodrigo Maia (DEM) foi vaiado na homenagem à vereadora.

Com Lula fora da campanha, a maior atividade no campo da esquerda deverá vir de Ciro Gomes (PDT), hoje embolado com outros em segundo (Bolsonaro lidera), e de Guilherme Boulos, do mesmo partido de Marielle.

É cedo para saber o alcance desse movimento e se o já conhecido gosto pelas ruas ressurgirá. Mas tanto Boulos quanto Ciro sugeriram nesta semana colocar o povo novamente no centro das decisões. Ambos prometem, se eleitos, realizar plebiscitos para resolver grandes questões sem depender de barganhas em um Congresso dominado pelo “presidencialismo de coalizão”, onde MDB e DEM (ex-PFL) dão as cartas sem nunca terem eleito um presidente diretamente.

Ciro diz que reformar a Previdência e o sistema tributário exigirá um “novo pacto federativo” e que isso deve ser feito via plebiscito. Boulos diz o mesmo quando fala em aumentar o imposto sobre o 1% mais rico.

Por enquanto, é impossível saber se novas manifestações vão ocorrer e sequer se a esquerda, ainda divida e iludida com Lula, se mobilizará em torno de um projeto comum que a viabilize eleitoralmente.

O que sabemos: é o Congresso quem decide se uma medida será submetida a plebiscito, e isso precisa ser requisitado por ao menos um terço dos deputados ou senadores.  Depois, a proposta precisa ser votada nas duas Casas e aprovada por maioria simples, para só então ir a voto popular (obrigatório) em todo o país.

Nada é tão fácil quanto candidatos em campanha querem fazer parecer. Sobretudo se depender dos 29 partidos que ainda loteiam o Congresso.

Fernando Canzian – Folha de S.Paulo