Vera Magalhães – O Estado de S.Paulo

A campanha de 2006 deveria ter funcionado como um alerta para Geraldo Alckmin: uma eleição nacional não segue, nem de longe, os parâmetros de São Paulo. Simplesmente porque poucos lugares no mundo podem ser mais distantes do Brasil que São Paulo.

O início da segunda jornada presidencial do tucano, no entanto, parece mostrar que algumas coisas permanecem inalteradas. É verdade que, agora, ele adotou as balizas de um programa econômico caro logo de saída. Isso traz nitidez ao debate, o situa no campo dos que defendem reformas, rigor fiscal e privatizações e evita que ele repita o mico da jaqueta com emblemas de bancos públicos e estatais.

Mas na política e, sobretudo, na forma como se apresenta Alckmin continua sendo o mesmo de sempre. Seus aliados constataram, chocados, que o grupo de Michel Temer vazou em minutos o fato de o tucano ter procurado o presidente para iniciar conversas para uma possível união. Isso porque, em São Paulo, Alckmin se acostumou por muito tempo a ser o governador, aquele ao redor de quem as articulações se davam e que ditava o ritmo das conversas.

Jogando “em casa”, Alckmin teve em sua aliança partidos de A a Z, acomodados num amplo cabide de mais de duas décadas de poder ininterrupto do PSDB no Estado.

Enquanto ele oscila entre a média com pão na chapa e um discurso que flerta com as ideias já associadas a Jair Bolsonaro na segurança, no PSDB volta a ganhar corpo o zunzunzum da troca de candidato por João Doria. Alckmin tem o controle do PSDB e essa manobra é muito difícil em condições normais de temperatura e pressão. Mas o simples fato de o líder nas pesquisas estar preso e o segundo colocado ser de um nanopartido mostra que esta campanha será tudo, menos travada segundo o cânone clássico.

A receita de Alckmin para a vida saudável parece ser pouco para alavancá-lo.