Bernardo Mello Fanco – Folha de S.Paulo

Michel Temer nunca demonstrou interesse por futebol, mas quer tirar uma casquinha da Copa do Mundo. No dia em que a bola rolou em Moscou, o presidente gravou um vídeo com seu marqueteiro em Brasília. Em tom ufanista, ele pediu que o povo esqueça os problemas para torcer pelo escrete canarinho.

“No próximo domingo, o Brasil entra em campo. Somos mais de 200 milhões de corações pulsando”, disse. “A partir de agora, desaparecem todas as diferenças. Prevalece nossa alma verde e amarela. Todos nós estaremos juntos na mesma torcida, na mesma fé pela vitória de nosso país”, continuou.

Sem abrir mão do tom formal, o presidente enfileirou clichês futebolísticos. Disse que “o Brasil sempre é favorito”, assegurou que “jogadores unidos formam um time fortíssimo” e exaltou nossos “atletas de ouro”. Só faltou jurar que é brasileiro “com muito orgulho e muito amor”.

Desde que JK recebeu os campeões de 1958, todo presidente sonha em pegar carona no prestígio da seleção. Nem sempre dá certo. Em 2002, FH abriu o palácio aos heróis do penta e continuou com a popularidade em queda. O candidato da situação, José Serra, acabou derrotado na eleição presidencial.

Especialistas em pesquisas rejeitam a tese de que a Copa influencie a urna. A diretora-geral do Ibope, Márcia Cavallari, diz que não há correlação entre o desempenho da seleção e a performance dos candidatos. Ela lembra que o fiasco do time de Felipão não atrapalhou a reeleição de Dilma em 2014. “A Copa não influencia a escolha do eleitor”, resume.

Como acontece a cada quatro anos, o Mundial deve esvaziar o Congresso e esfriar a corrida presidencial. Isso tende a congelar os candidatos em suas posições atuais nas pesquisas. “A tendência é que tudo fique como está até o final da Copa”, prevê a diretora do Ibope.

Até que alguém leve a taça para casa, o eleitor terá que aturar políticos vestindo a amarelinha e arriscando palpites. “Nossos craques vão jogar com mais garra para compensar a ausência de Neymar. Aposto em Brasil 2 x 1 Alemanha”, tuitou Temer, então vice-presidente, antes da semifinal da última Copa. Foi em 8 de julho de 2014, o dia do fatídico 7 a 1.