Via Pedro do Coutto

Meu saudoso amigo Paulo Montenegro me disse uma vez que as pesquisas eleitorais são as únicas que podem ter seu resultado conferido por toda a opinião pública do país. É verdade. Porque todas as demais pesquisas, sejam de audiência da TV, sejam relativas ao mercado econômico, não passam por uma revisão popular e integral de seus prognósticos e resultados.  Conheci muito o Paulo Montenegro, que assumiu o Ibope a partir de 1945 e dele não se afastou até o final de sua vida.

A projeção do Ibope foi evoluindo através do tempo, tanto assim que nas eleições no Rio em 1962, Montenegro fez uma permuta com o jornal Última Hora para publicar o prognóstico apontando a vitória de Eloi Dutra sobre Lopo Coelho, que disputavam o cargo de vice-governador da Guanabara.

Lembro que Lacerda, então governador, no final da campanha afirmou que só a Marinha tem contra-almirante e, por isso, a então Guanabara não deveria ter um contra-governador. Mas foi o que aconteceu.

LACERDA E NEGRÃO – Me encontrava com Paulo Montenegro praticamente todas as semanas para obter acesso às pesquisas em relação às quais eu escreveria no Correio da Manhã. A eleição de 1962 não foi a única derrota de Lacerda. Ele perdeu em 65, quando apoiou Flexa Ribeiro e foi batido por maioria absoluta nas urnas por Negrão de Lima.

Chegamos então a um ponto ao qual me referi no título. Negrão venceu com 51% dos votos contra 38 de Flexa Ribeiro.  Naquele tempo a Marplan era outra empresa de pesquisa existente. Concluiu por um prognóstico totalmente oposto ao feito pelo Ibope e deu a vitória de Flexa. Aconteceu simplesmente o seguinte: a Marplan fechou.

Eis aí um exemplo de como a comprovação das pesquisas nas urnas torna-se fundamental para os institutos. No dia seguinte às urnas a população inteira fica sabendo dos erros e acertos das pesquisas. E os acertos acontecem quase sempre, como os números comprovam.

VITÓRIA DE DILMA – Nas eleições de 2014 o Ibope apontou a vitória de Dilma Rousseff por 5 pontos de vantagem. O Datafolha prognosticou vantagem de 4 pontos. Na contagem final dos votos a vitória da candidata do PT foi pela margem de 3%. Os números do pleito encontram-se a disposição na Internet. Por isso é que eu digo que as empresas de pesquisa jogam seu destino nas urnas.

O Ibope é mais antigo que o Datafolha, mas na minha opinião ambos merecem ampla credibilidade. De 1945 para 2018 lá se vão 73 anos. Nesse espaço de tempo o Ibope foi atingido por dois erros: um em 54 na disputa entre Jânio Quadros e Ademar de Barros pelo governo de São Paulo. Outro em 1985, quando Fernando Henrique Cardoso perdeu a prefeitura da capital do estado para o mesmo Jânio Quadros. Portanto dois erros, registrados em mais de 70 anos, a meu ver, tornam-se apenas duas exceções numa regra de dezena de milhares de acertos. Não se trata de acertos exatos. Mas é fundamental que a pesquisa aponte o vencedor e o segundo colocado.

BASTA CONFERIR – Sei que há pessoas que não acreditam em pesquisas. É natural. Mas convido essas pessoas a confrontar os levantamentos deste ano em torno do desfecho das urnas a cotejarem o que vão dizer os levantamentos e os resultados finais das eleições que não se referem apenas à Presidência da República, mas incluem também os governos estaduais.

Nos Estados Unidos e no Brasil nada se faz no campo empresarial sem que seja precedido por pesquisas. Aliás no mundo inteiro. As pesquisas estendem-se ao consumo das famílias, à divisão da sociedade por classe de renda, as audiências da televisão e emissoras de rádio. Um dos fatores do sucesso da Rede Globo decorreu de uma pesquisa. Estava em foco a audiência do Chacrinha. Numa reunião o apresentador sustentava que a televisão repousava sua força nas classes de menor renda. Uma pesquisa do Ibope provou o contrário.

E hoje as audiências das emissoras de televisão em geral são al