Por Tiago Dantas / O Globo

Um confronto entre Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) sobre a igualdade de salários entre homens e mulheres fez com que o segundo debate entre presidenciáveis, transmitido na noite desta sexta-feira pela “RedeTV!”, fosse mais movimentado que o primeiro programa, na semana passada.

Mais uma vez, participaram oito presidenciáveis. Embora a emissora de TV tenha anunciado que deixaria um púlpito vazio para representar o ex-presidente Lula, o banco destinado ao petista foi retirado após um pedido de Bolsonaro que contou com a anuência de todos os competidores, menos Guilherme Boulos (PSOL).

JAIR BOLSONARO (PSL) — Depois de três atuações na TV que não o comprometeram, o debate da Band e as entrevistas para o “Roda Viva” e GloboNews, Bolsonaro viveu dramas de um estudante: teve dificuldade ao falar de um assunto que não conhecia, a dívida pública, foi flagrado com uma cola escrita na mão esquerda, com perguntas que pretendia fazer, e, no final, levou uma bronca de uma professora de História (profissão de Marina Silva). Bolsonaro tinha acabado de aproveitar uma dobradinha com Cabo Daciolo sobre aborto, drogas e ideologia de gênero, quando foi questionado por um jornalista sobre uma questão econômica espinhosa. De pé, no centro do estúdio, denunciava o nervosismo, se mexendo o tempo todo. No bloco seguinte, escorreu ao dizer que o governo não precisa fazer nada para garantir a igualdade de salário entre homens e mulheres, pois isso já está na Constituição, e ainda ouviu Marina dizer, na sua frente, que isso não acontece. Ao final do debate, foi ríspido com um repórter que perguntou o que tinha na cola da sua mão: “Vá plantar batata”.

MARINA SILVA (REDE) — Frequentemente taxada de frágil, Marina rasgou o clima morno do debate ao confrontar Bolsonaro sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres e a dizer que ele ensina os jovens que eles podem “resolver tudo na violência”. Única mulher presente ao programa de TV, ela já vinha dedicando espaço ao eleitorado feminino em suas agendas públicas dos últimos dias. No mesmo embate o deputado, ela ainda usou uma frase que pode servir de resposta a quem usa sua religião para criticá-la. Quando Bolsonaro disse que ela era uma evangélica que defendia o aborto, a ex-senadora afirmou que o “estado é laico”. O embate, já próximo ao fim do programa, salvou a participação de Marina, que até então estava esquecida pelos adversários e apagada em meio a manifestações genéricas contra a corrupção e medidas de Temer.

CIRO GOMES (PDT) — Pela segunda vez, Ciro deixou para trás a fama de um sujeito “esquentado” no debate da RedeTV!. Trocou um aperto de mão com Bolsonaro após uma pergunta e deu risada ao presenciar um embate entre o capitão e Daciolo. Aparentemente à vontade, fez brincadeira com o tempo curto para responder e escolheu como seu principal interlocutor o tucano Alckmin, a quem tentou ligar medidas do governo Temer como o teto de gastos. Assumiu tons professorais ao explicar a Bolsonaro como a dívida pública é formada, voltou a prometer tirar o nome de endividados do SPC, minimizou a ligação de Katia Abreu com o agronegócio e se comprometeu a revogar o teto de gastos.

GERALDO ALCKMIN (PSDB) — Questionado pelo apoio do blocão e medidas de apoio ao governo Michel Temer, Alckmin reagiu com críticas ao PT e seus aliados que, nas suas palavras, “quebraram o Brasil”. Passou boa parte do debate discutindo economia com Ciro, que respondia de forma mais clara e enérgica e menos técnica. Citou menos siglas que no programa da semana passada, mas insistiu na proposta do IVA, um imposto único sobre o consumo, sem esclarecer como isso muda a vida do eleitor. Antes de sair de cena, fez um breve aceno ao Nordeste, ao falar da transposição do São Francisco. A região, órfã de Lula, é historicamente um problema para o PSDB, que amarga índices baixíssimos de voto em praticamente todos os estados.

ÁLVARO DIAS (PODE) — O senador começou o debate tropeçando em algumas palavras, mas logo engatou ao entrar um tema recorrente em seus últimos discursos: a Lava-Jato. Embora não tenha citado o juiz Sergio Moro, a quem cogitou colocar no Ministério da Justiça no debate anterior, aproveitou a ausência de Lula para criticar a corrupção e emplacar uma frase de efeito: “Essa encenação de candidatura é uma afronta ao país”. Jogou pelo empate: não foi provocado, mas também não provocou nenhum candidato.

GUILHERME BOULOS (PSOL) — O líder do movimento sem-teto repetiu o bordão dos “50 tons de Temer” para se referir aos adversários. Tentou ser didático e se fazer entendido: falou sobre o preço do gás e explicou a diferença de imposto pago por quem aluga uma casa e quem tem um fundo imobiliário. Não teve chance de um confronto direto com Jair Bolsonaro, como havia feito no debate da Band, mas pegou carona no embate de Marina Silva com o candidato do PSL para dizer a ele que “eleição não se ganha no grito”. Ficou isolado no voto a favor do púlpito Vazio para Lula, mas não mencionou o petista no debate.

HENRIQUE MEIRELLES (MDB) — O ex-ministro da Fazenda foi mais incisivo do que no debate da Band. Levou praticamente todas as respostas para o campo econômico, ainda que tenha mantido o tom acadêmico. Mais uma vez, tentou se ligar aos resultados positivos do governo Lula, mas foi colocado em uma encruzilhada ao ser questionado por Boulos sobre os 13 milhões de desempregados atuais — ele deixou o Ministério da Fazenda de Temer em abril. Numa tentativa de tentar se desligar de Temer, afirmou, ao menos duas vezes, que nunca foi investigado e nem enfrentou escândalos. No início do debate, flertou com a ideia que ajudou a eleger João Doria (PSDB) como prefeito de São Paulo dois anos atrás: “Não sou político”.

CABO DACIOLO (PATRI) — Com uma atuação que lembra a de pastores de programa de TV, o deputado federal limitou sua participação a temas religiosos. Carregando uma bíblia enquanto circulava pelo estúdio, Daciolo falou sobre uma suposta farsa das urnas eletrônicas aliada à “nova ordem mundial” para escolher o próximo presidente e falou em “baixar o combustível” e convocar os trabalhadores para unidades militares sem dar qualquer pista sobre como isso aconteceria. Foi alvo de piada de Boulos sobre a Ursal, união de nações sul-americanas que ele citou no primeiro debate. Justificou sua corrida ao Planalto dizendo que o Brasil “precisa de Jesus”.