Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

Pelos cenários traçados por Carlos Thadeu Filho, economista sênior do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), se o futuro presidente conseguir reformar o regime previdenciário e o sistema tributário na primeira parte de seu mandato, poderá manter, tranquilamente, o teto que limita o aumento de gastos públicos até 2021. Será um desgaste a menos. Também não terá de se preocupar com a inflação e os juros, já que o teto dos gastos funciona como uma âncora para o Banco Central. Ao limitar o crescimento das despesas pela inflação do ano anterior, o teto indica ao BC que não há risco de deterioração fiscal.

Por mais apoio popular e do Congresso que o próximo presidente da República venha a ter, é certo que ele lidará com inflação e juros maiores. O tamanho do custo de vida e da taxa básica (Selic) dependerá, porém, das políticas que serão adotadas na economia. No cenário base projetado por Thadeu Filho, em que toda a base da atual política macroeconômica será mantida, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 4,6% e a Selic saltará dos atuais 6,5% para 8,5% ao ano. Nada que não seja controlável.

É PROIBIDO ERRAR – O importante, ressalta o economista, é que não se cometam erros, que o futuro presidente não embarque em aventuras. O mercado financeiro está acreditando que é mais seguro seguir com Jair Bolsonaro no comando do país, mesmo ele não tendo sido testado em nenhum cargo administrativo.

Apesar de rejeitado pelos donos do dinheiro, Fernando Haddad tem a plena consciência de que, com a inflação sob controle e os juros baixos, poderá retomar as políticas sociais executadas durante os governo de Lula, que engrossaram o mercado de consumo em quase 50 milhões de pessoas.

Diante de tantas expectativas, é importantíssimo que Bolsonaro e Haddad aproveitem as próximas três semanas para explicitarem o que pretendem fazer na economia. Até agora, nenhum dos dois teve a preocupação de mostrar aos eleitores os programas de governo para fazer o país crescer novamente, gerar empregos e distribuir renda. A renovação no Congresso é um sinal eloquente de que ninguém aguenta mais todas as mazelas que se arrastam desde 2014, quando o Brasil mergulhou na mais severa recessão da história.