Carlos Newton

Nos seus áureos tempos de humorista na TV Globo, o multimídia Jô Soares criou um personagem muito interessante, que caía na lábia de qualquer político que lhe contava uma história, quebrava a cara e depois encerrava o quadro com o seguinte bordão, olhando para a câmera de TV: “E eu acreditei!!!”. Milhões de eleitores e muitos auxiliares diretos, ministros e amigos de Jair Bolsonaro estão na mesma situação. Acreditaram na severa pregação do candidato contra a corrupção na política e agora estão perplexos com o rumo dos acontecimentos.

Entre os importantes personagens que foram surpreendidos com o caso de Flávio Bolsonaro estão o ex-juiz Sérgio Moro, a advogada Janaina Paschoal, o general Augusto Heleno e o vice Hamilton Mourão.

BAIXO ASTRAL – O clima no Planalto está sufocante. Ninguém quer se meter no assunto, mas fica difícil tirar o corpo fora, porque o assédio da imprensa é absurdo. Na última terça-feira, dia 15, antes do novo escândalo, o ministro Sergio Moro deu longa entrevista à Globonews e falou até sobre o caso de Queiroz, sempre saindo pela tangente, ao repetir a justificativa de Bolsonaro pai. Mas agora esse comportamento não é mais admissível e os jornalistas não aceitarão evasivas. Moro vai ter de fugir dos jornalistas;

Aliás, a situação de Moro está desconfortável desde que elogiou Onyx Lorenzoni, em 6 de novembro, dizendo ter “grande admiração” por ele e minimizando a acusação de caixa 2, ao alegar que o parlamentar gaúcho já havia confessado o erro e pedido desculpas. Depois, surgiram denúncias de que Onyx usou notas fiscais em série da “consultoria” de um amigo para justificar “gastos” de sua cota parlamentar, e isso Moro jamais pode aceitar. É melhor ficar calado.

E OS GENERAIS? – É claro que a decepção dos generais é imensa. Conseguiram assumir o poder democraticamente, mas o presidente não era bem o que eles esperavam. Na sexta-feira, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse apenas que o Bolsonaro considera que o assunto do filho Flávio não lhe diz respeito. Para o general, é duro entrar no jogo político e ter de dar esse tipo de declaração nada verdadeira.

A imagem de Bolsonaro está definitivamente afetada pelo cheque recebido de Queiroz em nome da primeira-dama. Mas isso não significa que o governo acabou. Pelo contrário, está apenas começando.

O que vai acontecer é que Bolsonaro terá de se recolher à sua insignificância, permanecendo à frente do governo apenas de forma representativa, para deixar os militares exercerem o poder em sua quase plenitude.