Por Ricardo Corrêa / O Tempo

Pressionado de todos os lados e correndo o risco da ingovernabilidade, o presidente Jair Bolsonaro resolveu dobrar a aposta. Em vez de buscar uma relação mais harmônica com o meio político, escolheu o caminho do confronto. É bom que se diga que o caminho escolhido é absolutamente coerente com o que pregou na campanha. O presidente não pode ser acusado de estelionato eleitoral.

No entanto, isso não significa que não tenha optado por correr riscos. Pelo contrário. Bolsonaro os leva ao limite, tentando chegar a um final diferente do que os que tiveram Dilma e Collor, dois que viveram o mesmo dilema e optaram por esse caminho.

MANIFESTAÇÕES – Ao insuflar manifestações para o próximo dia 26, Bolsonaro se torna sócio delas. Significa que, aos olhos dos que dividem o poder, se os atos forem um fracasso, isso mostrará que perdeu o apoio do povo que o elegeu. Se muita gente for para rua, mas houver radicalismo exacerbado, com depredações e ameaças à democracia, o presidente também será responsabilizado. É por isso que muita gente que apoiou Bolsonaro defende que a estratégia é um erro.

O principal problema é que, em geral, manifestações a favor de algo costumam ser menores que manifestações contrárias. O nome é protesto não por acaso. Se Bolsonaro mostrou nas urnas que tem maioria, por qual razão oferece agora a chance de um terceiro turno? Qual o recado que dará se as manifestações contra os cortes na educação no dia 30 forem maiores do que as do dia 26?

MAIS CONFUSÃO – Esse clima de confronto e de manifestações em sequência interessa em eleições, para quem quer polarizar a disputa. Mas evidentemente não serve para governar. Quanto mais confusão, pior para o país e para o governante, que não consegue impor sua agenda.

Para piorar, o alvo dos protestos incentivados pelo presidente é um grupo de parlamentares que é majoritário na Câmara. Sem eles, o governo não tem como aprovar nada.