Por Pedro do Coutto

É isso. O Jornal Nacional da noite de sábado divulgou ampla matéria focalizando erros e contradições tornadas públicas pelo site Intercept. O levantamento destacou múltiplas incoerências, além de equívocos quanto a nomes de procuradores e procuradoras citados e que funcionaram na Operação Lava Jato. Além de erros de nomes dos que teriam sido gravados, em muitos casos as datas das gravações não coincidem com os momentos que as intercepções aconteceram.

Um dos erros foi uma referência a apuração telefônica no dia 20 de outubro de 2019. Impossível. O dia 20 de outubro deste ano ainda não transcorreu. Estamos a primeiro de julho que é o dia de hoje.

MUITAS FALHAS – Houve várias outras falhas em sequência. O título deste artigo, digo eu, poderia sem esforço receber um ponto de interrogação no final, mas optei por deixá-lo como está porque acredito ter acontecido uma convergência dessas que acontecem de dez em dez anos.

No jornalismo, ocorrer um lapso como esse com base em algo inexplicável. Sobretudo agora, com as redes sociais funcionando a pleno vapor. Os jornais mantêm equipes cuja obrigação é percorrer o espaço da comunicação moderna, com isso, encontrar rapidamente os contextos que dão margem para que as matérias prossigam em estágios além de sua apresentação inicial.

No jornalismo, suíte representa a percepção de que em torno de determinado fato, por sua importância, há margem para continuação com base nos ângulos de sequência. Suíte é também, explico, a oportunidade de ouvir confirmações ou desmentidos que podem conduzir ao aprofundamento das matérias.

INACESSÍVEIS – A TV Globo e GloboNews, por exemplo, têm frequentemente tentado entrar em contato com os personagens do fato original. Isso porque as duas emissoras abrem espaços tanto para confirmações quanto para desmentidos. Quando não há retorno, os apresentadores assinalam os personagens que foram procurados mas não retornaram as ligações. Panorama que os jornalistas conhecem bem. E toda vez que não há retorno fica nas telas a certeza de uma confissão silenciosa.

No caso da Internet, a mim parece que o site Intercept, com a matéria do JN, passou a ser o próprio interceptado. Seus erros são arrasadores. As gravações são de 2016 e o objetivo claro é abalar o Ministro Sérgio Moro e a força-tarefa da Lava Jato. Mas a partir da noite de sábado, o Intercept, ao tentar abalar a Justiça, terminou abalando a si mesmo.