Por Pedro do Coutto

Uma tendência de queda, como os números indicam, a meu ver deve preocupar o governo Bolsonaro, não só porque o índice de aprovação já perde para o de reaprovação e também por um aspecto fundamental das pesquisas: os índices abrangeram todas as classes sociais, principalmente as de renda mais baixa. Esse panorama está contido na reportagem de Igor Geslow e também na análise de Mauro Paulino e Alessandro Janini, diretores do Instituto da Folha de São Paulo. As duas matérias foram publicadas na edição de ontem.

Criei para mim um confronto entre as duas escalas, dividindo o índice maior pelo menor, e a partir daí fixando o coeficiente positivo ou negativo.

NEGATIVO – No cenário de hoje, o coeficiente de Bolsonaro seria negativo, resultado da divisão de 38 por 29. Pode mudar ao longo dos próximos meses, mas isso dependerá tanto dos atos concretos do Executivo quanto do processo de comunicação.

Não estou me referindo ao campo publicitário comercial, mas sim a um processo jornalístico gratuito. Pois esta é a informação no estilo das reportagens no sistema de comunicação. Entretanto, vale frisar, é necessário que os atos do governo sejam de interesse positivo da população.

Ilusão pensar o contrário. Posso afirmar isso com base em 60 anos de jornalismo. A reforma da Previdência é um exemplo. O governo tem desenvolvido comerciais nas emissoras de televisão apresentando o projeto de reforma como uma estrada rumo a felicidade e ao bem-estar coletivo. Entretanto o Datafolha focaliza a reforma como um dos pontos mais rejeitados pela opinião pública.

JOGANDO A TOALHA – Tanto assim que uma reportagem de Idiana Tomazelli, O Estado de São Paulo, destaca o fato de haver um número crescente de funcionários federais buscando se aposentar. Em 2017 aposentaram-se 22,4 mil em doze meses. Em 2018 outros 20 mil. Em 2019 somente nos sete primeiros meses requereram aposentadoria 24 mil funcionários e funcionárias.

Entretanto, no que se refere à despesa não muda nada. Cresce a folha dos aposentados, diminui a folha com o pagamento dos que ficam em atividade. Esse cotejo tem base na aposentadoria dos funcionários admitidos antes de 2003. Pois os admitidos após essa data estarão contidos no teto do INSS, 5,8 mil reais.

TODAS AS FAIXAS –  A pesquisa do Datafolha observa a queda de aprovação em todas as faixas de renda. `Porém o desgaste maior se faz sentir nas classes de menor renda. Entretanto, atinge também os de renda maior, assim considerados aqueles cujos vencimentos superam 10.000 reais por mês. Agora deixo um toque de humor amargo. A pesquisa define os que ganham acima de 10000 reais como ricos. Essa não.

Fechando a pesquisa, ela ressalta que a desaprovação é maior entre as mulheres e menor entre os homens: 43% contra 34%. Por que será?