Por Percival Puggina

Frequentemente, é a ganância das vítimas que viabiliza as atividades de quem vive de vigarices. Nesse tipo de golpe, o espertalhão se apresenta como alguém meio ingênuo que oferece ao alvo escolhido um negócio muito vantajoso. Seduzida pela possibilidade de um ganho fácil e rápido, a vítima agarra a oportunidade com as duas mãos. Foi o que fez o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, quando contatado para a delação dos donos da J&F. E caiu num espetacular conto do vigário.

À medida que os fatos vão sendo revelados, percebe-se que Janot estabelecera uma agenda para que o final de seu mandato ocorresse em clima de verdadeira apoteose. Ele teria sido o homem que denunciara o presidente da República, parte expressiva dos grandes figurões dos três últimos governos e, por fim, enquadrara toda a cúpula do PT, incluindo dois ex-presidentes, apontando Lula como o chefe da organização criminosa.

GRAN FINALE – Batman e Robin trabalhando juntos não fariam melhor no combate ao crime organizado. No entanto, a pressa em construir seu gran finale restringiu a prudência e lhe proporcionou, bem ao contrário, um grosso fiasco.

Na emoção de derrubar Temer, o procurador-geral não hesitou em ajustar com seus supostos colaboradores um verdadeiro Powerball na loteria das delações. Quem viveu para ver, viu, porque nunca mais alguém terá uma vida de crimes recompensada com tanta cortesia oficial. Foi-nos dada a oportunidade de contemplar, boquiabertos, fraudadores de muitos bilhões, corruptores de mão cheia, deixarem o país cercados de seus mais sofisticados bens e sob a proteção de salvaguardas principescas.

Comprado o gato como se lebre fosse, Janot levou o bichano ao ministro Edson Fachin, que lhe alisou o pelo e assinou no lado esquerdo da operação. Dias depois, em meio a indignado clamor nacional, o plenário do STF carimbou e selou o negócio tal como fora feito. Nunca antes um golpe do vigário foi tão sacramentado.

OS ENGANADOS – Agora, quando as novas gravações tornam ainda mais afrontosa a complacência do acordo feito com os Batista Brothers, quando o ministro Fachin faz cara de paisagem e quando a ministra Cármen Lúcia pede investigações urgentes e rigorosas, o ministro Fux  prima pela prestidigitação dos fatos, dizendo que os dois irmãos “enganaram o MPF e a sociedade”. Opa, ministro! Deixe-nos fora dessa. Os enganados, na lambança, foram o MPF, o procurador-geral e o STF.

Desde as primeiras notícias, a sociedade, pagadora de todas as contas, escandalizou-se com as imprudências que cercaram a delação e com o assombroso acordo que a recompensou e os senhores endossaram. Queira Deus que a embrulhada não afete o instituto da colaboração premiada nem invalide o conjunto probatório nela produzido!

Desde o início, sempre causou no mínimo desconforto ver Joesley Batista assistindo de Nova Iorque o incêndio que provocou na Esplanada dos Ministérios. Mesmo a quem apoiava a investigação, a “prisão” de Joesley no Baccarat Hotel & Residences incomodava. Na melhor das hipóteses, o conforto do exílio norte-americano de Joesley compensava dada a gravidade do que ele revelara na sua delação: um grande esquema de corrupção, que chegava a envolver o próprio presidente da República, Michel Temer.

Diante dos acontecimentos dos últimos dias, engrossa com muita força o temor de que Joesley, na verdade, tenha criado um esperto estratagema para se livrar da cadeia, usando o Ministério Público para alcançar o seu objetivo. E, aí, corre o risco de ter um final melancólico a passagem de Rodrigo Janot pelo comando da Procuradoria Geral da República. Ele terá que mostrar que seu trabalho vai ao encontro da realização da nossa Operação Mãos Limpas, na tentativa que a Operação Lava-Jato e tudo o que a envolve faz de replicar no Brasil o que aconteceu na Itália na investigação que demoliu os braços da Máfia na política. Ou sucumbir caso prevaleça a ideia de que, na verdade, Joesley lhe passou a perna tornando-o o protagonista, de fato, de uma “Operação Mãos Bobas”.

Claro, muito do que se soube nos últimos dias continuará tendo a mesma contundência. As imagens de Rodrigo Rocha Loures correndo com uma mala de dinheiro, saindo do restaurante de um shopping em direção ao seu carro. A constrangedora – ou, talvez, absurda mesmo – conversa de Temer com Joesley de madrugada no Palácio do Jaburu, numa reunião sem registro, na qual o irmão Friboi entrou sem dizer seu nome. Tudo é grave. Mas ficará menos grave se ficar demonstrado que Joesley orientou sua delação para pegar o presidente, armou flagrantes para envolvê-lo, omitiu ou distorceu fatos nesse sentido. Sabedor que era que quanto mais grave fosse o que denunciava, maior a possibilidade de obter benefícios no seu acordo de delação. E ficamos nós aqui com o país em chamas enquanto ele desfrutava do “Spa de La Mer” do Baccarat.

Na mesma linha, é bem provável que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também busque relativizar da mesma forma o que foi dito contra ele. As malas de dinheiro para o primo Frederico Pacheco e tudo o mais de constrangedor que lhe foi imputado.

 Janot está diante de um dos maiores desafios de sua vida. Como ele mesmo disse, como poderia ignorar o conteúdo do que lhe denunciou Joesley Batista? Ele deveria ou não ter aceito as condições feitas por Joesley? Se não aceitasse, permitiria que seguisse incólume um esquema de corrupção? Ou foi enredado por um goiano esperto, que lhe contou metade da história para escapar das grades? E como seguirá o processo de saneamento político que Justiça, Polícia Federal e Ministério Público se encarregaram de fazer se as suas ferramentas caírem em descrédito?

Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes

 

 

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