A maior oferta de alimentos e promoções de eletrodomésticos feitas pelo comércio varejista derrubaram os preços na economia em setembro, o que deflagrou revisões para baixo nas projeções para a inflação e aumento nas apostas de cortes mais agressivos na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 5,5% ao ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma deflação de 0,04%, o menor resultado para o mês desde 1998, segundo IBGE. O desempenho surpreendeu analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma inflação de 0,02% no mês. EXPECTATIVAS – Após o resultado, de 37 instituições consultadas, pelo menos 27 reduziram as expectativas para o IPCA este ano. Para 2019, a mediana ficou em 3,30% – abaixo da taxa de 3,42% registrada pelo último Boletim Focus, do Banco Central.

Por Antonio Temóteo / Correio Braziliense

O Banco Central traçou um quadro dramático para a economia neste e no próximo ano. Mas nem isso impedirá a autoridade monetária de aumentar os juros a partir de janeiro para tentar conter a inflação galopante que terminará 2015 em 10,8%, mais do que o dobro da meta definida pelo governo, de 4,5%. O diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, deixou claro que a instituição se preocupará apenas em garantir que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue em dezembro de 2016 abaixo do teto do intervalo de tolerância, de 6,5%, e convirja para meta próximo de 4,5% em 2017.

Lopes foi além. Apesar de a presidente Dilma Rousseff cobrar, durante a posse do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, medidas para recuperar o crescimento, ele frisou que o BC cumprirá seu único mandato, o de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda. O BC não está preocupado se a alta dos juros contribuirá para aumentar a taxa de desemprego, aprofundar a recessão e elevar a dívida pública, que já encosta nos 70% do Produto Interno Bruto.

Segundo Altamir, a taxa básica da economia (Selic) subirá quando o Comitê de Política Monetária (Copom) julgar necessário. Na opinião dele, usar as políticas de juros e fiscal de olho apenas no ritmo da atividade implica em um período mais longo de sofrimento ao país.

VAI ATÉ 15,75%

No mercado, os analistas estimam que a Selic, hoje em 14,25% ao ano, chegará a 15,75% até o fim de 2016. Isso, mesmo o BC projetando retração de 3,6% do PIB em 2015 e queda de 1,9% em 2016. Será a primeira vez, desde 1930 e 1931, quando o mundo estava em depressão econômica e o Brasil enfrentava um golpe político, que isso aconteceu.

A gravíssima recessão não impedirá que a inflação feche o próximo ano, pelas projeções do BC, em 6,2%. A chance de a carestia estourar o teto da meta está em 41%.

Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

A recessão e o quadro inflacionário se tornam mais dramáticos diante do estrago que estão fazendo no mercado de trabalho. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, afirma que o desemprego, que atingiu 7,9% em outubro, chegará a 10% no ano que vem, retornando aos níveis de 2006 — um retrocesso de uma década. Somente nos últimos 12 meses, a renda média real dos trabalhadores caiu 7%. Isso quer dizer que, além das demissões em massa, quem ainda consegue uma vaga está sendo obrigado a aceitar salários menores. O resultado disso será mais retração econômica.

O que mais perturba especialistas é o estrago social que está se desenhando no país. Recessão, inflação alta e desemprego tendem a elevar a pobreza, por mais resistente que seja a rede de proteção criada nos últimos anos. Nas periferias das grandes cidades, já se vê um contingente maior de homens adultos desocupados. Muitos sequer têm dinheiro para pagar as passagens de ônibus que lhes permitiriam procurar trabalho. Os recursos do seguro-desemprego, que vinha segurando as despesas emergenciais, já acabaram. Restará, nesse ambiente de insatisfação, o aumento da violência.

O IBGE mostra que, em relação a outubro do ano passado, a taxa de desocupação em Salvador passou de 8,5% para 12,8%; em São Paulo, quase dobrou, saltando de 4,4% para 8,1%; em Recife, foi de 6,7% para 9,8%; em Belo Horizonte, de 3,5% para 6,6%; no Rio de Janeiro, de 3,8% para 6,0%; e, em Porto Alegre, de 4,6% para 6,8%. Para André Perfeito, o aumento do desemprego faz parte do ajuste que Levy e o Banco Central buscam para derrubar a inflação. Resta saber, segundo ele, se a sociedade aguentará calada esse arrocho.

PRESENTE DE GREGO

A ordem, dentro do governo, é para monitorar as tensões sociais que possam despontar país afora devido ao descontentamento com a economia. Dilma já deixou claro a interlocutores a preocupação com o risco de a nova classe média, a mais beneficiada pelo longo período de crescimento econômico, sair às ruas e encampar as pressões pelo impeachment. A presidente sabe que, neste momento, não tem nada a oferecer para aplacar as mazelas que estão destruindo o poder de compra das famílias e inibindo os investimentos produtivos.

A alternativa será apresentar paliativos, como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), sancionado agora. Lançado em julho, o projeto trouxe pouquíssimo alento. As demissões se acentuaram, a economia afundou na recessão e a desconfiança em relação ao governo só cresceu, por causa, sobretudo, da crise política que travou o país.

Dilma, Levy e companhia poderão até recorrer à retórica para tentar segurar os ânimos. Mas, com o bolso dos trabalhadores tão estragado às vésperas do Natal, a missão será quase impossível. Em vez da esperança de dias melhores, o que a petista está entregando para a população é um grande presente de grego.

28
ago

ENTENDA A RECESSÃO TÉCNICA DO BRASIL

Postado às 22:12 Hs

O Brasil voltou a ter dois trimestres seguidos de queda no Produto Interno Bruto (PIB): recuou 0,7% (dado revisado) e 1,9%, de abril a junho. No “economês”, esse fenômeno é chamado de recessão técnica.Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe a possibilidade de recuperação no curto prazo com a recessão técnica. Mas o mercado prevê que o Brasil passe por uma retração prolongada e que vai se estender até o ano que vem.

A expectativa dos economistas dos bancos é que, no ano, a economia tenha uma retração de 2,06%, seguida por uma queda de 0,24% em 2016. Será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de contração na economia, pela série do IBGE iniciada em 1948.O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos dentro do país, e serve para medir o comportamento da atividade econômica.

Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

O Banco Central está convencido de que, com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada semana passada, os analistas vão se render mais rapidamente ao discurso de que a inflação vai mesmo convergir para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. Ainda que os próprios técnicos do BC admitam que atingir tal objetivo “parece ser algo quase impossível”, uma vez que a carestia está se aproximando de 9%, todos os modelos econométricos usados pela instituição mostram que o tombo do custo de vida será forte no próximo ano.

A meta do BC, com a ata do Copom, foi consolidar a visão de que os juros vão subir até onde for necessário para que a promessa de levar a inflação ao centro da meta seja cumprida. Por mais doloroso que possa ser para a economia, que está mergulhada na recessão, a prioridade, neste momento, é retomar o controle da carestia. O BC está consciente de que, sem uma inflação mais baixa, a retomada do crescimento econômico ficará mais distante. Não há confiança de consumidores e empresários que resista à disparada dos preços.

Em recentes conversas com técnicos do governo, integrantes da cúpula do BC deixaram claro que, mesmo que o Copom dê por encerrado o aumento dos juros nos próximos meses — o mercado aposta em mais uma alta da taxa básica (Selic) de 0,50 ponto percentual em julho e outra de 0,25 em setembro, passando dos atuais 13,75% para 14,50% ao ano —, nada impedirá que, mais adiante, o arrocho seja retomado, caso a inflação saia da rota esperada.

DOIS FATORES

Na avaliação do BC, dois fatores tendem a levar o IPCA para próximo de 4,5% ao longo de 2016. O primeiro deles é a retomada do controle das expectativas. O entendimento é de que, ao manter firme o aperto monetário iniciado depois das eleições presidenciais, aos poucos, os economistas foram derrubando as projeções para o custo de vida. As estimativas para 2016 estão ancoradas em 5,5% e as de 2017 e 2018 já se aproximam do centro da meta.

Outro fator que anima o BC é a redução da inércia inflacionária, que estimula os agentes econômicos a reajustarem seus preços olhando para trás. Ainda que a diminuição da inércia esteja apenas começando, o mercado passará a incorporar tal movimento em suas projeções, fazendo com que elas se aproximem das previsões da autoridade monetária. O peso menor da inércia na inflação se dará por meio do mercado de trabalho. Com o desemprego aumentando, a demanda por serviços vai diminuir e, em consequência, os reajustes de preços.

mar 28
quinta-feira
10 02
ENQUETE

Você acha que o brasileiro acostumou-se com a Corrupção ao longo do tempo ?

Ver resultado parcial

Carregando ... Carregando ...
PREVISÃO DO TEMPO
INDICADOR ECONÔMICO
65 USUÁRIOS ONLINE
Publicidade
  5.952.352 VISITAS