E Jesus, o Nazareno, quando emitiu o seu último suspiro na cruz, segundo seus biógrafos teria dito: “Está consumado”. Consumado o quê? A história toda, tal qual foi traçada para que ficasse viva na cabeça da humanidade. Não se engane, se Jesus tivesse uma velhice normal e pacata, pouco seria lembrado ou talvez até estivesse esquecido hoje, como Zaratustra, o sábio persa que fundou o zoroastrismo (espécie de filosofia precursora do cristianismo, hoje só cultuada por poucos) que pereceu naturalmente. As circunstâncias da morte de Cristo o colocaram no rol de figuras notórias da humanidade, talvez a mais famosa de todas. O mesmo acontecendo com Ghandi, Martin Luther King e John Lennon.

A morte ainda é um tabu para a maior parte de nós. Não é a toa que, em algumas culturas, para ser admirado e respeitado o homem precisa mostrar destemor da própria extinção, revelando aos demais que pode ultrapassar a barreira tão temida, numa espécie de superação heróica. Nessas tribos, quem morre a serviço de uma ideologia, religião ou crença, ganha aspecto de santidade e passa a ser reverenciado por todos. E quem somos nós senão a grande tribo globalizada? Por isso foi que aprendemos a respeitar ainda mais a revolução cubana, devido ao martírio do Che. Muito mais ainda respeitamos hoje o movimento ambientalista brasileiro por causa do assassinato de Chico Mendes.

No caso dos Beatles, o que havia era um movimento ideológico espontâneo que ganhou dimensões mundiais e que ainda hoje guia os passos de bilhões de pessoas, ainda que muitas delas não se apercebam disso. Não estou falando de anos sessenta, é algo além do mero Flower Power. É claro (penso eu) que os fab não sabiam desse fenômeno quando andavam pelas docas de Liverpool ou embriagados de bolinhas, cerveja ou whisky barato em Hamburgo. Ninguém poderia prever que aquilo se tornaria o que se tornou. Nem mesmo John Lennon. Há rumores, porém, de que um dia o enigmático beatle, talvez nas profundezas de uma viagem de ácido, teria convocado os demais colegas para uma reunião onde faria uma revelação bombástica. Na tal reunião declarou a todos que ele era Jesus. Indignação geral. Paul, George e Ringo riram, debocharam (como era típico dos cínicos alegres que eles eram) e catalogaram o episódio como mais uma esquisitice do poeta psicodélico, dentre tantas outras. Justamente ele que havia se envolvido em um imbróglio terrível na mídia após comparar sua banda ao expoente máximo da cristandade?

Estranho é que hoje ambos (Jesus e Lennon) sejam reverenciados no mês de dezembro, embora nem de longe isso signifique que John fosse Jesus (não, não o John, the Baptist mas John, the Guitarist). Outrossim volto e penso: na longa teia de “coincidências” da história, por que cargas d’água John tinha que ser morto justamente no mês de aniversário de Jesus?! Sincronicidades à parte, é isso, caros amigos: os Beatles também tem seu mártir. Quando se assiste a série Anthology e se vê os três remanescentes sentados juntos relembrando episódios do passado dourado fica claro que John não poderia (em nenhuma hipótese, considerando quem ele era) estar ali entre eles.

Lennon foi (e é) o Che Guevara e Paul é o Fidel Castro, numa comparação bem caribenha e descontraída. O Walrus é a figura de proa de uma filosofia muito profunda que talvez um dia venha a ter denominação, quando os historiadores estudarem melhor a coisa à uma distância segura. O artista John Lennon falou muito fundo aos corações humanos de uma forma que estava (e está) gravada na alma de uma importante parcela da humanidade e de seus descendentes que não estavam vivos na época, o que prova que a coisa é atemporal. Expressou o que essas pessoas gostariam de dizer mas talvez não ousassem nem pensar. Isso o posicionou imediatamente como líder de um segmento. E, é claro, o colocou também na linha tiro.

 


Fonte: Beatles Brasil

 

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