O último confronto entre os candidatos à Presidência da República nesta campanha, ontem à noite, na TV Globo, só não foi mais morno graças à mudança de comportamento da presidenciável do PV, Marina Silva, que assumiu uma postura de ataque aos concorrentes. O esperado embate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não aconteceu. Os dois mal se questionaram. Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) manteve o estilo de debates anteriores, tratando todos de forma dura e irônica, insistindo que os concorrentes se comprometessem em suspender o pagamento da dívida pública.

Dividido em quatro blocos, o debate começou com candidatos fazendo perguntas entre si sobre temas determinados. Ao questionar Marina sobre a previdência social, Serra reforçou as principais promessas da sua campanha: aumento de 10% para os aposentados e salário mínimo de R$ 600. Plínio, ao falar sobre impostos, insistiu na taxação das grandes fortunas e isenção de ICMS sobre produtos populares. Indagado por Dilma sobre a política para o funcionalismo, ele a acusou de corroborar privatizações e terceirizações, prejudicando os servidores. E prometeu reestatizar as empresas privatizadas.

No segundo bloco, com perguntas de tema livre, Marina foi ao ataque. Primeiro, criticou a forma “fragmentada”, segundo ela, com que Dilma fala sobre suas propostas, afirmando que lhe falta visão estratégica. “Não é uma eleição para prefeitura, mas para a Presidência. É preciso ter visão abrangente”, disse. Num confronto com Plínio – que a desafiou a mostrar o palanque – Dilma afirmou que não pretende governar sozinha, e sim com uma coalizão de partidos que garanta a sustentação política. Acusada por Plínio de faltar com transparência nas doações de campanha, a ex-ministra se atrapalhou e disse que as “doações oficiais” eram todas declaradas à Justiça Eleitoral. Depois, corrigiu: “Todas as doações são oficiais”, se irritando com os risos que arrancou da plateia.

Abrindo o terceiro bloco, Marina prometeu manter o programa de habitação “Minha casa, minha vida”, criado pelo governo Lula, mas disse ser preciso incrementá-lo para que atinja mais a população pobre. E ao ouvir Serra enumerar ações que teria implementado em favelas quando governou São Paulo, reagiu: “Isso de tratar as coisas como passe de mágica precisa acabar. Visitei essas favelas e não vi nenhuma dessas ações”, disparou.

O confronto entre Marina e Serra se estendeu ao quarto bloco, quando a candidata verde cobrou do tucano que fizesse uma autocrítica por ter atacado o programa Bolsa-Família, do governo Lula, e agora prometer mantê-lo. Irritado, Serra voltou a afirmar que o Bolsa-Família tem inspiração nos programas sociais do governo FHC, do qual participou. “Criamos vários programas e o governo Lula juntou e expandiu”, explicou. “Não use sua régua para medir os outros, porque se eu usar a minha régua, direi que você e Dilma têm muito em comum, inclusive quando fizeram parte do governo do mensalão, por exemplo”, acrescentou o tucano.

Marina ainda fustigou os dois adversários afirmando que eles é que seriam parecidos, por ter visão apenas gerencial, e não estratégica. “Dilma coloca acertos e ganhos sem olhar para os novos desafios. Assim como Serra. Por isso o brasileiro olha cada vez mais para o meu projeto, e não quer entrar nesse mundo azul do Serra nem no mundo cor-de-rosa de Dilma”, arrematou.

Nas considerações finais, Marina comemorou sua recente ascensão nas pesquisas, afirmando ter quebrado a polarização entre Dilma e Serra. E mostrou confiança. “Se eu for ao segundo turno, eleitor, eu tiro você do anonimato. Que fiquem duas mulheres (ela e Dilma) no segundo turno, para um debate com tempo igual”, disparou. Serra, por sua vez, pediu ao seu eleitor que conquiste mais votos, enquanto Dilma destacou ter chegado com “muito esforço” ao fim da campanha e prometeu erradicar a pobreza no País. Encerrando, Plínio afirmou que “hoje acaba uma batalha, mas a guerra continua”, e disse estar convencido de que os jovens captaram a sua mensagem. “Viva o Brasil!”, arrematou.

Fonte: Sérgio Montenegro Filho

 

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