Eleição apertada é assim mesmo: para desespero dos estrategistas, quem decide são os indecisos. E suas variantes: o eleitor volúvel, o ambíguo, o tardio, o falso desencantado, aquele que talvez emende o feriadão. Na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta – que dá 50% dos votos totais a Dilma Rousseff (PT) e 40% a José Serra (PSDB) – 6% dos entrevistados se autodeclaram indecisos e 4% pregam o voto branco ou nulo. Dos que declaram voto, 10% ainda cogitam trocar de candidato. Dos que votaram em Serra ou Dilma no primeiro turno, 4% e 5% trocaram de lado, respectivamente. E 1% diz que pretende viajar e, portanto, não vai comparecer às urnas.
Para efeitos sociológicos, indeciso é o eleitor que faz sua opção na reta final da disputa, a menos de 15 dias das eleições. É um fenômeno crescente verificado tanto nas democracias consolidadas como nas recentes, para o qual concorrem a diluição das marcas partidárias e o crescente volume de informações de que dispõem os eleitores para formar sua decisão. “Os indecisos são normalmente moderados, de centro, e não se identificam com nenhum partido”, diz Marco Lisi, da Universidade Nova de Lisboa, que estudou o fenômeno na Grécia, Espanha e Portugal. “E há outra característica: a indiferença ou a ambivalência em relação aos principais líderes e temas da campanha.”
A ambivalência é conhecida das pesquisas. É por isso que se fazem perguntas aparentemente estranhas, como se um autodeclarado eleitor de um candidato, se ele votaria no adversário. Muitos respondem “talvez”; alguns dizem “certamente!”. Nada de espantoso nisso. A maioria das pessoas abriga visões antagônicas de mundo e aplica uma ou outra conforme a situação, explica o lingüista George Lakoff, autor de “The Political Mind”. Ambivalentes podem ser chamados ‘moderados’ ou ‘centristas’, mas, a rigor, podem se comportar de modo bastante extremado, indo de um polo a outro do espectro.
Esta volatilidade reflete um fato conhecido de neurocientistas e marqueteiros: o voto do eleitor não é resultado da fria ponderação de propostas ou retrospectos. Antes, espelha os valores morais, a bagagem emocional do eleitor e os sentimentos despertos pelos candidatos ao longo da campanha. E não há nada de errado com isso. “Em geral, é falso dizer que a emoção atrapalha a razão”, diz Lakoff. “Ao contrário, a racionalidade requer emoção.”
O prestígio dos aliados – As campanhas do tucano José Serra e da petista Dilma Rousseff estão atentas a este eleitorado volúvel e a dois movimentos de migração de voto: a partilha do eleitorado verde e a transferência de prestígio de aliados locais consagrados no primeiro turno.
Cerca de 6,2 milhões de pessoas elegeram governadores aliados de Serra, mas não votaram em Serra. Do lado governista, cerca de 3,8 milhões de pessoas deixaram de votar em Dilma, mas não no governador eleito da base aliada a ela. Somados os eleitores dos candidatos estaduais que passaram para o segundo turno, o estoque de votos do tucano vai a 7 milhões, e o da petista, a 3,8 milhões. A vantagem também é de Serra quando se estima o potencial de votos que os senadores eleitos podem transferir aos presidenciáveis aliados: 8,7 milhões para ele, contra 5 milhões para Dilma.
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