Mesmo faltando apenas dois meses para deixar o cargo, o presidente Lula ainda provoca polêmica. No começo da semana, ao comentar a eleição de Dilma Rousseff, ele deixou todo mundo tonto. Primeiro, garantiu que Dilma governará de fato e de direito, sem interferências suas na gestão. “Rei posto, rei morto!”, disparou. No dia seguinte, porém, em conversa com jornalistas, já estava sugerindo que a futura presidente deveria manter os atuais comandantes da equipe econômica, Guido Mantega (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central).

Se isso não é dar pitaco no governo alheio, o que é? Uma sugestãozinha à toa?

Para completar, no fim da semana o “Cara” extrapolou de novo. Voltou a afirmar que a partir de janeiro todo poder será conferido exclusivamente a Dilma. Para, em seguida, anunciar sua “total disposição” de viajar pelo País em busca de apoio para aprovar uma reforma política o mais ampla possível.

Diante do exposto, duas perguntas surgem de imediato. Primeiro: por que somente em 2011, na condição de ex-presidente, Lula decide lutar por uma reforma política que durante dois mandatos não conseguiu aprovar no Congresso Nacional? Não conseguiu ou não teve interesse. Afinal, é fato sabido que pelo menos 80% dos senadores e deputados não tinham o menor interesse em tocar tal proposta, que mexeria no confortável status quo político-eleitoral de muitos deles.

Mas, e Lula? Qual o interesse dele em aprovar a reforma política depois de ter deixado o cargo? Conhecendo o estilo do ainda presidente, é possível levantar ao menos uma tese: Vários esboços de reforma que dormem nas gavetas do Legislativo incluem a proposta de ampliação dos mandatos dos prefeitos, governadores e presidentes da República, de quatro para cinco anos. Em compensação, prevêem a extinção do dispositivo que permite a reeleição dos governantes. E uma vez enterrado esse instrumento, Dilma Rousseff não poderia mais ser candidata do PT em 2014.

Pensando nessa perspectiva, Lula poderia estar imaginando voltar ao poder nos braços do povo. Será que oito anos no Palácio do Planalto não foram o bastante para ele? Parece que não, embora alguns aliados assegurem que não passa pela sua cabeça a intenção de retomar o poder, nem em 2014 nem em 2018.

Pode ser. Mas após a posse de Dilma haverá tempo para avaliar se Lula está mesmo disposto a levar adiante a ideia de se “aposentar”. Por enquanto, foram apenas umas poucas intromissões, sem maiores consequências, nas declarações que deu sobre o governo da sucessora. Resta esperar para avaliar seu comportamento a partir de janeiro, quando estiver, enfim, na planície. Há quem aposte que ele não vai conseguir se acostumar…

Fonte: Sérgio Montenegro Filho

 

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