O quadro só não está pior, segundo os comerciantes, porque, com o dólar derretendo, produtos que vêm de fora acabam chegando às mesas dos consumidores a preços mais acessíveis. É o caso, por exemplo, do bacalhau. Desde o início do ano, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o quilo do produto avançou apenas 0,32%.
Apesar da estabilidade de preços do bacalhau, na peixaria de Marcos Novais não há uma previsão de crescimento nas vendas do produto neste fim de ano. “Se repetirmos o resultado de 2009 já será muito bom. Estamos contando que, daqui por diante, não haja muita variação nos preços. O quilo do filé limpo de bacalhau do orto custava R$ 63,90 no fim do ano passado”, ressalta
IMPORTADOS AMENIZAM
A guerra do câmbio pode ajudar os brasileiros a incrementar o jantar natalino neste fim de ano. Se, por um lado, a desvalorização do dólar e a supervalorização do real prejudicam a indústria nacional e causam desemprego, por outro, tornam mais baratos produtos geralmente presentes nas festas de dezembro. Na avaliação do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz, a ceia de Natal, tradicionalmente composta por itens que não fazem parte da rotina de gastos das famílias, deve ficar mais farta por conta de alimentos importados como bacalhau, azeite de oliva e vinho.
Braz alerta, porém, para a tendência de os preços do frango e do peru subirem mais até o fim do ano, um problemão, principalmente para as classes de menor poder aquisitivo. “O encarecimento da carne bovina estimulou o consumo de aves ao longo de 2010, o que aumentou os preços”, afirma. Na sua opinião, em 2011, o mercado deve ficar atento também para o possível impacto da diminuição da safra de grãos (soja e milho, principalmente) usados como alimentos para as aves. Se esse quadro se confirmar, os custos de produção aumentarão e a conta vai parar na mesa dos consumidores.
Perigo à vista
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e nos estados de Rondônia, Maranhão, Piauí e Bahia, no próximo ano, o primeiro do governo a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas deve atingir 114,5 milhões de toneladas. A primeira projeção para 2011 aponta que o volume esperado é 2,8% inferior à safra de 2010, que deve alcançar 148,8 milhões de toneladas. A mudança deve-se, principalmente, às menores previsões para as regiões Sudeste (-1,9%) e Sul (-9%).
A soja deve continuar como a principal cultura, com 68,1 milhões de toneladas produzidas. Em seguida, aparecem o milho (primeira safra), com 31,2 milhões, e o arroz, com 12,2 milhões de toneladas. “A queda deve aumentar o valor dos insumos para a indústria de ração animal e, consequentemente, encarecer a carne. Nas festas de fim de ano, o brasileiro vai economizar ao pagar mais barato pelos produtos importados”, afirma Braz.
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