A cientista política Wendy Hunter, professora da Universidade de Austin, Texas (EUA), acaba de escrever um livro sobre as transformações por que passou o PT entre 1989 e 2009. Para ela, o partido ‘mudou a ponto de ficar quase irreconhecível’. Além de diferenças que ela chama de mais óbvias, como a moderação ideológica e as alianças que o partido atualmente faz (‘inimagináveis há 20 anos’), Hunter menciona a própria candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, uma ‘novata’ na sigla. Para Hunter, o presidente Lula teve papel central na condução das mudanças, mas ela não vê as alas radicais conquistando mais espaço no governo Dilma.
Folha – A sra. acaba de publicar um livro em que estuda as transformações por que passou o PT desde 1989. Quais as principais mudanças?
Wendy Hunter – O PT mudou a ponto de ficar quase irreconhecível em relação ao que era na década de 1980. Um dos aspectos mais óbvios diz respeito à moderação ideológica, que pode ser percebida não apenas nos seus programas mas também em suas políticas de governo. As alianças que o PT faz hoje seriam inimagináveis há 20 anos. Tome como exemplo os dois últimos vice-presidentes: José Alencar (PL) e Michel Temer (PMDB). A atual posição do PT em relação ao PMDB mostra bem o quanto um processo de ‘normalização’ ocorreu.
A eleição de Dilma Rousseff também faz parte desse ‘pacote’ de mudanças?
Sim, é um ponto importante. O simples fato de que a candidata à Presidência neste ano foi alguém que ingressou no partido há pouco tempo -dez anos- é testemunha dessas mudanças. Além disso, há diversos candidatos que não vieram do sindicalismo ou dos movimentos sociais, por exemplo.
Lula foi a principal figura do PT durante todo esse tempo. Qual sua participação nesse processo de transformação? Lula teve um papel central na administração e na promoção de mudanças no PT. Transformações programáticas precisam encontrar apoio não só no eleitorado, mas também na legenda. Lula foi crucial ao encorajar o partido a ouvir mais o eleitorado e suas aspirações. Ao mesmo tempo, foi sensível às lutas e às dinâmicas internas do PT e soube conduzi-las de forma a apoiar um caminho moderado.
O que podemos esperar do PT durante o governo Dilma? As tendências mais radicais ganharão mais espaço? Acho que o PT está bem firme nas mãos dos moderados. Se olharmos as eleições internas do partido, veremos que não parece haver muito apoio às opções radicais, o que sugere que boa parte da base tornou-se moderada junto com os líderes. Os movimentos sociais também parecem bastante desmobilizados. Com a penetração de programas como o Bolsa Família, organizações como o MST já não conquistam adeptos como antes. Dilma, com suas tendências estatizantes, provavelmente não reduzirá o tamanho do Estado, o que encolheria os postos do partido
Fonte. Folha de S.Paulo
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