Dilma não é Lula é mais do que óbvio. Pelas trajetórias de vida e de militância bastante distintas, estilos, dimensão de liderança e por aí podemos esticar a lista de diferentes atributos entre ambos.
Nem o governo Dilma pode ser exatamente igual ao governo Lula. Quando candidata, a presidenta falava em continuar e avançar. E é disso que o Brasil precisa. Então, continuidade significa consolidar o que deu certo; avançar quer dizer apoiar-se no que foi acumulado em oito anos para ir bem além.
É possível? Provavelmente sim. Mas Dilma terá diante de si circunstâncias bem discrepantes das que cercaram Lula em seus dois governos consecutivos. Maioria parlamentar expressiva no Senado e na Câmara: ponto para Dilma. Conjuntura econômica mundial desfavorável: ponto negativo, que implica num ingente desafio – o de mudar, de fato, a orientação macroeconômica.
Não será tarefa fácil. Na própria base governista, larguíssima, não são poucos os que resistirão, por exemplo, à adoção do câmbio subvalorizado, à redução significativa da taxa de juros e ao controle da conta de capitais, elementos tidos por muitos especialistas como indispensáveis à manutenção do ritmo crescente de desenvolvimento.
Aí entra outra diferença entre Dilma e Lula. O presidente, do alto de sua condição de maior líder popular da história do nosso País, quase que se bastava a si mesmo, arrostando obstáculos e resistências mediante seu prestígio pessoal e extraordinária capacidade de se comunicar com o grande público. Em certa medida isso inibia o movimento social, carente de possibilidades objetivas e subjetivas de exercer o co-protagonismo no processo de mudanças. Agora, não. A presidenta vai precisar de apoio popular – ativo, certeiro, oportuno. Até para melhorar a correlação de forças no seio da coligação governista, respaldando as correntes mais à esquerda.
São fatores, digamos, de mudança ou de emperramento da obra de governo, que conformarão o novo cenário nacional a partir de 1 de janeiro.
Por enquanto, cabe observar a montagem do novo governo, especular sobre as inclinações de tal ou qual ministro escolhido, particularmente os da área econômica, incluindo o novo presidente do Banco Central. Mas especular sem carregar nas tintas. Quando a máquina começar a moer é que se verá em que grau Dilma avançará além de Lula – e assim mesmo não nos primeiros meses, pois não se monta uma equipe nem a entrosa e a faz render de imediato.
Demais, Dilma precisará muito do chamado jogo de cintura. Cá do meu posto de observação na província ousaria dizer que logo a presidente se dará conta de que a ela cabe governar – portanto conduzir politicamente o governo, “fazer política”; e aos ministros e dirigentes de grandes empresas estatais, cabe administrar.
E do movimento social e dos partidos à esquerda do espectro governista se deve esperar uma conduta proativa, ao mesmo tempo propositiva e crítica.
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