Penso, logo existo – já ensinava René Descartes há trezentos e cinquenta anos. Podemos dizer agora: penso, logo me alimento – bem ou mal, conforme o conteúdo do meu pensamento.

Como assim? É que imaginar os alimentos diminui a vontade de comer, ou seja, pensar em comida por vários minutos tem o poder de saciar o cérebro. Exatamente o contrário do que se supõe comumente. “Estou liso, nem quero pensar em comida para não aumentar a fome”, quem já não ouviu isso?


Desse modo, pensar pode ser uma excelente dieta. Ou uma solução pelo menos temporária para o cara que está na pior e não quer morrer de fome. Isso a julgar pelo que dizem pesquisadores da  Universidade Carnegie Mellon, EUA. Eles constataram que quando um vivente qualquer se imagina ingerindo grandes quantidades de um alimento antes de efetivamente consumi-lo, na prática termina diminuindo drasticamente as porções.

Parece uma brincadeira, mas tudo indica que não é. Digo “tudo indica” porque sou meio ressabiado com pesquisas desse tipo. Certa vez esteve no Brasil um cientista israelense que “descobrira” que a ingesta diária de quantidades enormes de ovos de galinha nada tem a ver com as taxas de colesterol elevadas. Fez palestra em São Paulo a convite de avicultores.

Sei que a coisa é diferente, mas dá para desconfiar. Segundo os pesquisadores norte-americanos, pensar e comer menos ocorre em razão de um fenômeno chamado “habituação”. E funciona assim: quando o indivíduo é submetido a um estímulo repetidas vezes ou por longo período, decaem as respostas fisiológicas e comportamentais. Por isso, cá na província os últimos pedaços de uma rapadura parecem não ser tão saborosos quanto os primeiros. Ou a quinta tulipa de chope. Ou a quarta dose de uma boa cachaça.

O fenômeno pode ser de grande valia no tratamento da compulsão alimentar e até da dependência química. Será? Tomara que sim. Mas creio que é necessário, durante o tratamento, esconder do paciente que pensar na comida reduz a vontade de comer. Para evitar a trapaça do chocólatra, por exemplo, que fará justamente o contrário: desviará a mente para os lances da última partida do seu time preferido.

Donde se conclui que a ciência tem seus limites. Ou estou pensando errado?

Fonte: Luciano Siqueira

 

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