Em vida ou em gloriosa memória, Mário Lago – cujo centenário se comemora neste 2011 – sempre foi é uma reserva moral dentro da cultura brasileira. É só folhear sua invejável biografia, feita de capítulos e contribuições marcantes no rádio, no jornalismo, no teatro, na televisão, na literatura (é autor de livros de poemas, de contos de causos e de pelo menos dois belos volumes de memórias, Na Rolança do Tempo e Bagaço de Beira-Estrada) e na Música Popular Brasileira.

Nasceu no dia 26 de novembro de 1911, na Rua do Rezende – uma das ruas mais tradicionais do Centro antigo e atual do Rio de Janeiro. Letrista de sambas inesquecíveis, basta lembrar Emília, Ai que saudades da Amélia e Atire a primeira Pedra (em que, segundo o escritor e jornalista Sérgio Cabral, está o verso mais bonito da MPB: “Perdão foi feito pra gente pedir”), todos esses com o parceiro de primeira hora, Ataulfo Alves. Compôs também inúmeras marchas para o carnaval, como Aurora, valsas e até um fox-canção lindo de morrer, Nada Além, com Custódio Mesquita. Viveu uma época de ouro, quando espalhou o seu charme (“Modéstia à parte, eu era bonito, impertinente, usava paletó e gravata, dançava razoavelmente bem”, contou em entrevista à revista Bundas) e despertou paixões que o levaram a alguns desentendimentos ilustres (“Sou o inspirador do samba do Noel Rosa que diz ‘Pra que mentir/Se tu ainda não tens esse dom?’… teve mulher no meio”).
Carioca da gema, tricolor de coração, o artista teve a vida inteira marcada por uma intensa e coerente participação política, em defesa de sua classe artística e de todas as classes menos favorecidas neste país de distâncias sociais tão grandes. Em todas essas atividades, deixou inúmeras lições. O artista que viveu intensamente nos deixou (e deixou saudades) no dia 30 de maio de 2002.

 

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