O governo brasileiro espera que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declare em sua primeira visita ao Brasil apoio à candidatura do país a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Por isso, o encontro entre os presidentes Obama e Dilma Rousseff, previsto para o próximo sábado, em Brasília, é tido como simbólico pela diplomacia e, ao mesmo tempo, considerado o grande teste de Dilma junto à mídia internacional.
Sem o aval de Obama, afago já feito à Índia recentemente, a visita poderá se transformar em uma derrota da política externa brasileira, segundo um experiente diplomata. Reservadamente, a avaliação interna é a seguinte: Obama deu declarações positivas em torno das candidaturas da Índia e do Japão. A Alemanha, também no páreo, já é um aliado incondicional dos EUA. Os três países, junto com o Brasil, formam o G-4, grupo que briga pela reforma do Conselho de Segurança. Hoje, só há cinco vagas do gênero, ocupadas por EUA, a China, a Rússia, a França e o Reino Unido.
Nas últimas semanas, o assunto tem sido discutido, discretamente, em contatos entre autoridades dos dois países. A mensagem é que, mais do que uma declaração formal defendendo a reforma da ONU, Dilma e o chanceler Antonio Patriota querem que Obama cite nominalmente o Brasil.
A Casa Branca e o Departamento de Estado emitiram sinais promissores, segundo um alto funcionário do governo brasileiro.
Obama deverá tornar público, no mínimo, seu “apreço” quanto à atuação do Brasil, atualmente membro rotativo e presidente do Conselho de Segurança, ante as grandes questões internacionais.
Um integrante do governo americano confirmou ao GLOBO essa versão. Disse que Obama quer resgatar as boas relações com o Brasil, o único membro do Bric (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China) das Américas; um país democrático e com fortes afinidades históricas e culturais com os EUA.
– Não se pode desprezar um aliado como o Brasil, país que tem bom trânsito entre as mais variadas tendências do mundo e que chegou a ser mencionado por Muamar Kadafi como possível observador de uma negociação para a resolução da crise na Líbia – comentou essa fonte.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Virgílio Arraes, uma declaração de apoio ao Brasil poderia causar algum tipo de constrangimento entre os EUA e o México, por exemplo.
Arraes acredita que, isoladamente, o Brasil tem cacife para assumir a vaga, mas não pode dizer que vai representar a América Latina:
– O Brasil é um candidato de peso, na qualidade de país emergente, mas teria poucas chances. Não possui poderio militar e fala português, enquanto os demais latinos falam espanhol. O Brasil não consegue sequer o apoio de todos os sócios do Mercosul.
Ele se referia à Argentina, outro postulante a uma vaga permanente no Conselho de Segurança. Por outro lado, os argentinos não foram incluídos no roteiro de viagem de Obama na América Latina, que abrange, além do Brasil, Chile e El Salvador.
– É um sinal de descontentamento dos EUA com a Argentina e de prestígio para o Brasil – comentou um embaixador brasileiro.
Na agenda, parceria para ajudar os menos favorecidos
A agenda bilateral, contudo, é bem mais ampla do que discussões sobre hipóteses. Acompanhado da mulher Michelle e das filhas Malia e Sasha, o presidente dos EUA visitará o Brasil pela primeira vez, trazendo na bagagem acordos importantes a serem assinados com Dilma Rousseff. A parceria para ajudar países menos favorecidos a se desenvolverem, a construção conjunta de um satélite de monitoramento do clima e a possibilidade de os brasileiros que trabalham nos EUA contarem o tempo de serviço para fins de aposentadoria no Brasil são alguns exemplos.
O líder americano, que visitará o Rio no dia 20, virá disposto a aparar arestas de ordens diversas, que foram se acumulando ao longo dos dois últimos anos com o Brasil e, ao mesmo tempo, intensificar as relações econômico-comerciais.
Estão em jogo projetos de investimentos como o pré-sal, o Programa de Aceleração do Crescimento, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Também entrarão na agenda temas como a política nuclear iraniana, as barreiras comerciais aplicadas às exportações brasileiras de suco de laranja, etanol, fumo e produtos siderúrgicos e a compra de caças pela FAB.
Fonte: O Globo
 

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