Se o Brasil mantiver o ritmo de crescimento de consumo de café, a perspectiva é de que, em 2012, se torne o maior consumidor do mundo, deixando para trás os EUA, que ocupam o posto desde o final do século 19.
Para que as estimativas da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) se confirmem, é preciso, ainda, que o consumo da bebida nos EUA permaneça (quase) estagnado, como tem estado.
É que o brasileiro não só está bebendo mais café mas também parece tomar gosto pelas qualidades dos grãos especiais. Para entender a virada é preciso, porém, voltar os olhos para a história.
A soberania dos EUA se explica pela forte industrialização do país e por seu sistema de produção, que “exigia o consumo de um revigorante”, de acordo com a historiadora Ana Luiza Martins, autora de “A História do Café” (ed. Contexto).
O café foi lançado internacionalmente logo após a Revolução Industrial. “Se foi uma verdade [que o homem urbano passa a precisar de estímulos para manter boa produção] no início das cidades modernas na Europa, isso se intensifica nos séculos 18, 19 e 20 principalmente nos Estados Unidos.”
Enquanto isso, o Brasil, maior produtor de café desde o século 19, sempre privilegiou quantidade em detrimento de qualidade. E a maior parcela dos (bons) grãos era exportada.
“O brasileiro, em raríssimas exceções, tinha chance de ter acesso a esse café”, diz Silvio Leite, exportador de pequenos lotes e consultor de qualidade. “E ele passou a ter acesso num momento extraordinário, em que pode pagar pelo produto.”
Também atribui-se o aumento de consumo, estável desde 2003, numa faixa de crescimento de 4 a 5% ao ano, à explosão de cafeterias –a exemplo da Suplicy, que trabalha com grãos e “blends” próprios–, à exposição de boa variedade em gôndolas de supermercado –como faz a Casa Santa Luzia, que estimula o cliente a experimentar e a conhecer novos cafés– e ao movimento da implementação de microtorrefadoras em solo nacional.
Para Afonso de Mattos, da fazenda Braúna, uma das precursoras na torra e no movimento dos cafés especiais, foi muito difícil “convencer a população a pagar mais caro pelo café, mas apostamos em um mercado incipiente, virgem”. “Por que não fazer um mercado brasileiro?”
Fonte: Folha Online
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