Depois de lutar durante 13 anos contra um câncer, nosso ex-vice-presidente José Alencar morre aos 79 anos, deixando como lição o amor incondicional à vida. Sua batalha contra a doença e sua serenidade diante da morte foi um exemplo de coragem e persistência. O mineiro nos deixa como herança valores que não podem ser calculados em inventário: integridade, ética, comprometimento. Conceitos raros em um País cuja mentalidade maniqueísta define política como sinônimo de corrupção e onde todo empresário é taxado de explorador. Com sua biografia impoluta, José Alencar derruba esses paradigmas.
De balconista à megaempresário, o ex-vice-presidente prosperou através do trabalho. De uma família pobre, composta por 14 irmãos, Alencar começou a trabalhar aos 7 anos de idade, ajudando o pai, e saiu de casa aos 15 anos para ser balconista em uma loja de tecidos, cujo salário não era suficiente nem para pagar um aluguel de um quarto, obrigando-o a dormir nos fundos do estabelecimento comercial. Aos 18 anos, com dinheiro emprestado, abriu sua própria loja, “A Queimadeira”.
Era o início da construção de um império no ramo têxtil, consolidado com a criação de Coteminas (Companhias de Tecidos Norte de Minas), em 1967, na cidade de Montes Claros, e presente hoje em 11 cidades em Minas Gerais, Paraíba, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Argentina, exportando para toda a América do Sul, Estados Unidos e Europa. A empresa é dona das marcas Artex, Calfat, Garcia e Santista.
Com o sucesso comercial, Alencar conquistou o posto de presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria). O empresário ingressou na política em 1993, quando se filiou ao PMDB. No ano seguinte, foi candidato ao governo de Minas, ficando em terceiro lugar. Em 1998, conquistou a vaga no Senado Federal por seu estado, com 3 milhões de votos. Em 2002, pelo PL, integra a chata de Lula, sendo eleito vice-presidente. Ao longo dos oito anos do Governo Lula, Alencar presidiu o Brasil por mais de 400 dias.
Apesar de toda sua notoriedade política e empresarial, foi na luta contra o câncer que José Alencar virou um exemplo para os brasileiros. Desde 1997 o ex-vice-presidente passou por uma série de cirurgias para combater tumores no rim, próstata e abdome, teve um edema pulmonar, sofreu infarto, e outra série de complicações, mas sempre manteve a força de vontade e o otimismo. Em entrevista ele declarou: “Não tenho medo da morte. Tenho medo da desonra. Um homem público não morre. Mas perde a honra”. José Alencar honrosamente deixará saudade.
Por Janguiê Diniz
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