Por Dora Kramer

Silentes em público para não agravar suas divergências, em privado os tucanos reconhecem que vivem um momento de decisão: ou abandonam o quanto antes a lógica do litígio entre os grupos de pretendentes à Presidência da República – em português claro, Aécio Neves e José Serra – ou caminharão inexoravelmente rumo à autodestruição.

Há no partido a plena consciência de que o PSDB desperdiça seu patrimônio eleitoral de 44 milhões de votos recebidos na eleição presidencial e 10 milhões amealhados nas eleições parlamentares, na repetição do mesmo equívoco cometido por três períodos eleitorais consecutivos.

Esse erro é a atuação partidária sempre referida nos projetos desta ou daquela liderança. Até 2010, o PSDB girou em torno de Serra e agora passou a girar em torno de Aécio e do esforço de levar o paulista a concluir que sua chance passou.

Tal dinâmica – admite a direção nacional – impede a construção de um discurso para a sociedade e transforma o partido numa confederação de litigantes prisioneiros das escaramuças internas. Enquanto isso, o eleitorado desaponta-se, se dispersa, encanta-se com o estilo sóbrio da nova presidente e, com isso, o PT se põe a campo sem competidor à altura.

Esse diagnóstico tem sido compartilhado pelas lideranças regionais que participam das conversas preparatórias à convenção do próximo dia 28, que elegerá o novo Diretório e a nova Executiva Nacional do PSDB.

Todos no partido se dizem fartos dessa agenda improdutiva e a maioria diz apoiar a composição de uma direção que não obedeça ao critério de representação por grupos. Uma divisão igualitária dos postos entre serristas e aecistas manteria a executiva na mesma condição de “colagem” do litígio.

A ideia, assim que for confirmada a recondução de Sérgio Guerra à presidência, é o partido se “abrir” à convocação de dirigentes sob critérios de representatividade política e social, constituindo um conselho consultivo encarregado das diretrizes gerais.

Um grupo enxuto, composto no máximo de seis pessoas, entre as quais Fernando Henrique, Serra, Aécio, Tasso Jereissati e um ou outro governador, para zelar pelo rumo e pela unidade do partido. Atributos sem os quais o PSDB já se rendeu à evidência de que não tem futuro.

Cooptação. A prestação de contas dos partidos à Justiça Eleitoral mostra que os “grandes” asseguraram apoio de legendas satélites mediante repasses financeiros, a título de doação de campanha.

O PT financiou R$ 11 milhões ao PSC, ao PDT, PTN, PTC, PRB e PR. O PSDB, mais modesto, transferiu R$ 2 milhões ao PTB, DEM e PMN.

Isso é compra de apoio. Uma modalidade, digamos, contabilizada, da prática conhecida como “mensalão”.

Roteiro original. As especulações oriundas do PT sobre nomes de possíveis candidatos à Prefeitura de São Paulo – incluindo os ministros Fernando Haddad (Educação) e Guido Mantega (Fazenda) – repetem movimentos anteriores.

Em 2010, lançaram-se vários balões de ensaio, Ciro Gomes foi levado a mudar seu domicílio eleitoral e, no fim, prevaleceu o tradicional, com Aloizio Mercadante candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

Por isso mesmo, gente experimentada em matéria de PT aposta que Marta Suplicy acaba sendo a candidata em 2012. Consta que Lula não aprecia a solução, mas ocorre que não costuma insistir quando o partido resiste.

Venceu no caso de Ciro. Mas o exemplo não vale porque, como se viu, não era para valer.

Unhas e dentes. PT e PSDB têm a mesma prioridade na eleição de 2012: São Paulo e Belo Horizonte.

O clima é de beligerância: o PT a querer avançar nas searas tradicionais do adversário e o PSDB a se armar para defender seus territórios a qualquer custo.

Nem em Minas se fala mais na aliança tucanopetista, com a qual Aécio Neves sonhava construir o “pós-Lula”.

 

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